Texto: Jana Lauxen
Fotos: Bia Barzotto
A esmagadora
maioria dos originais recebidos pelas editoras Brasil afora são escritos por
homens – algo em torno de sete em cada dez. Será que as mulheres não escrevem?
Não gostam? Não sabem? A resposta para essas perguntas é não, não e não, respectivamente.
Mas então por que boa parte delas não tenta publicar, enviando seus escritos
para editoras e editores, como eles fazem?
A explicação
é dolorosamente simples: porque escrever é uma das formas mais potentes de voz
– e voz é algo historicamente negado às mulheres. Como não dá para literalmente
nos amordaçar, o truque é nos deixar inseguras, indecisas, frágeis e
minúsculas, quanto menor melhor, de modo que a gente mesmo se amordace e duvide
dos nossos talentos, da nossa coragem, da nossa mobilidade, das nossas
decisões. Da nossa literatura.
Não por
acaso, em um passado muito recente era comum escritoras publicarem sob
pseudônimos masculinos, para ganhar “credibilidade”; provavelmente muitas façam
isso até hoje. Em pleno século 21, veja que ainda fala-se em “literatura
feminina” ou “literatura de mulheres”, ao tempo que simplesmente não existe
“literatura masculina” ou “de homens”.
“É mais
fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”, já disse Albert, o Einstein.
E é preciso muito suor e alguns litros de lágrimas para desaprender as lições
erradas e caducas que nos enfiaram goela abaixo e que se entranharam em nós
feito raiz profunda.
Assim, toda
vez que recebemos um livro escrito por uma mulher para avaliação na Editora Os Dez Melhores, ficamos não só felizes, mas atentos às mudanças e com o coração
cheio de esperança. Porque essa moça que nos enviou o que escreveu deu um passo
importante em direção à emancipação; aquela que faz da nossa voz a espinha
dorsal da nossa independência e vai muito além da superfície e das aparências.
Imagine
então como nos sentimos quando, efetivamente, publicamos um livro escrito por
uma mulher. Quando tudo dá certo, o projeto fecha e sai da fantasia pra
realidade, é motivo de celebração não só à literatura, mas ao caminho que essa
literatura precisou percorrer para chegar até aqui. Para nascer e se
libertar das gavetas e dos arquivos salvos e esquecidos no computador e finalmente chegar na mão do leitor.
Domingo, 4
de dezembro, foi um dia assim, de celebrar essa literatura que existe, e existe
porque resiste; que rompe com o silenciamento e a insegurança em suas múltiplas
camadas, que dá a mão ao medo e vai com medo mesmo.
Falo do
lançamento do livro Imparável, da
escritora Júlia Massola, que aconteceu em Carazinho, no El Gato Gastrobar. Livro que
tive a sorte de pessoalmente editar e lançar pela Editora Os Dez Melhores.
Em Imparável, Júlia faz de sua vida e de
suas experiências a fonte na qual bebe e embriaga o leitor, envolvendo-o em sua
linha de raciocínio com habilidade, porém sem formalidade, e o convidando a ser
parte ativa da narrativa.
Não por
acaso, a obra possui espaços reservados para anotações e interações, permitindo
que o leitor esteja, de fato, dentro da história. O livro convida a entrar,
ficar à vontade e mais: dar voz para sua própria voz também.
Tal
aconchego marcou presença no El Gato nesse
domingo de chuva e sol, em que Júlia recebeu familiares, amigos e leitores.
Muitos abraços e risadas e reencontros, muitas conversas colocadas em dia e
esse contato direto, olho no olho, tão necessário e que nos coloca um em
conexão com o outro.
Como a Júlia
faz em seu livro e como seu livro faz com a gente, seus leitores.
Por quase
duas horas Júlia autografou, deu e recebeu carinho e
dividiu com outras pessoas a sua voz; sua voz que, nas páginas de Imparável, ora é mansa, ora é caudalosa,
ora sussurra, ora grita, porém jamais se cala, sem nunca perder o fio da meada
e o vínculo com o outro. Uma voz que surge e toma forma de palavra escrita, mas
que emana de vivências e caminhadas, ações e intenções, experiências e
reminiscências que produziram o conteúdo fundamental para a modelagem do texto.
Durante o
lançamento, Júlia fez ouvir sua voz também pelo microfone, quando compartilhou
com o público a sua gratidão pelo momento vivido, matéria-prima para projetos,
textos e livros futuros.
Fátima
Dorneles, escritora carazinhense, também ofereceu aos presentes algumas
palavras de carinho, de incentivo e de agradecimento.
Por fim, foi
a vez do vozeirão de Djenifer Bairros ecoar pelo
lançamento, em mais uma de suas apresentações hipnotizantes, emprestando sua
voz para canções que todos nós conhecemos e amamos, reinterpretando-as de um
jeito único, tremendamente doce e especial. Por sorte temos a tecnologia e seu
show está todo registrado aqui! De nada.
Como a
escritora que também sou, agradeço à Júlia pela sua coragem em escrever e
publicar; por ir contra às estatísticas, entoar sua voz e se movimentar,
colocando em movimento todo o mundo ao seu redor. Que você siga imparável, mulher,
amiga e colega de letras!
Enquanto Editora
Os Dez Melhores, que aqui represento, agradeço outra vez à Júlia por nos
escolher para lançar seu primeiro livro – o primeiro de muitos que ainda virão,
temos certeza absoluta!
Agradecemos
a cada um que esteve no El Gato Gastrobar no dia 4 de dezembro de 2022,
tornando possível essa tarde tão especial, que ficará guardada no lugar mais
bonito dos nossos corações!
Nosso muito
obrigada também a quem acompanhou a live do lançamento, ao vivo ou depois!
Ter vocês por perto, mesmo longe, significa muito e nos fortalece mais do que
podem imaginar!
Gratidão,
mais uma vez, ao Jonhy Wagner, à Crica Baratto e a todos que trabalharam no El
Gato Gastrobar, servindo mesas, preparando drinks e petiscos, atendendo todo
mundo com o maior carinho!
Valeu Bia
Barzotto, nossa amiga e fotógrafa oficial, que mais uma vez esteve com a gente
registrando os detalhes de cada momento, deixando para nós e para os dias que
ainda virão imagens que valem e falam por mil palavras.
Agradeço ainda
ao Alexandre, também conhecido como Cavanhas ou Afobório, que cuidou da venda
dos exemplares da obra durante o lançamento! Nem preciso dizer nada: você é
essencial há quase 16 anos.
Para nós, da
Editora Os Dez Melhores, encerrar o ano com o lançamento do livro Imparável é fechar 2022 com chave de
ouro e um sorriso bem largo no rosto!
E, o mais
importante, abrir as portas de 2023 cheios de gás para mais um ano, em que
seguiremos imparáveis trabalhando por um Brasil mais literário, mais leitor e
com mais autores ecoando suas vozes e letras onde antes era silêncio e folha em
branco!
Veja mais
fotos do lançamento aqui.