segunda-feira, 22 de março de 2021

Entrevista com Dheyni Barimaker da Silva!


“O professor é insubstituível”


Dheyni Barimaker da Silva, autora do texto Professor: inspiração, publicado no livro Ao professor, a palavra, nasceu em Uruguaiana/RS em 11/03/1991 e é graduada em Letras pela Universidade de Passo Fundo (UPF) com habilitação para Língua Portuguesa, Língua Inglesa e respectivas literaturas.

Professora de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Arte e Filosofia, também já lecionou as disciplinas de Ensino Religioso e Educação Física nas escolas Luciano Antônio Dondé e José Gelain, de São José do Ouro.

Atualmente é professora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª. Eldy Maria Pansera e vice-diretora na Escola Estadual de Ensino Fundamental Amélia Lenzi Raymundi, de Sananduva. 

Dheyni e seus alunos. 
 

1. Se você tivesse que se descrever em apenas três palavras, quais seriam e por quê?

Simplicidade, dedicação e emoção. Sou muito simples, não ligo pra cerimônias, regras de etiqueta, preferências por marcas, nem para nada muito requintado. Dedico-me às minhas pretensões. E, por fim, não consigo esconder minhas emoções. Sou muito “coração” e não admito mentira e falsidade.

 

2. Você é professora de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Arte e Filosofia. Como é lecionar estas matérias em tempos de internet e WhatsApp?

Durante o ano de 2020 foi bem difícil porque, ao enviar atividades à distância, eu tive que ser bem clara e, ao mesmo tempo, bem detalhista ao explicar o que os estudantes deviam fazer e como fazer. Então eu preparava todo um roteiro para a realização das atividades e, nas devolutivas, eu percebia que muitos sequer liam o que eu tinha proposto, outros copiavam as tarefas do colega, e alguns ainda faziam cópia da internet e, assim, não aprendiam absolutamente nada. Além disso, eu fazia vídeos meus explicando os conteúdos novos, mas muitos estudantes não estavam conectados no mesmo horário para tirar dúvidas, então, quando me chamavam, eu precisava me lembrar dessa determinada aula para depois responder – e na maioria das vezes isso acontecia em um horário no qual eu já estava fazendo outra coisa ou trabalhando para outra escola.

Muitas atividades tiveram que ser abandonadas: brincadeiras, jogos, dinâmicas que exigem maior socialização, os trabalhos em grupos, algumas tarefas orais... O próprio acompanhamento do professor foi mais escasso em 2020. Nós, educadores, aprendemos muito e tivemos que nos virar nos 30, improvisando, buscando jogos on-line, vídeos do YouTube que pudessem substituir ou incrementar a nossa explicação... A internet e o WhatsApp auxiliam muito na construção do aprendizado, sem dúvidas, mas não somente eles. A internet e o WhatsApp são auxiliares do professor. É ele quem deve propor, acompanhar, mediar e avaliar o que o aluno produz utilizando essas ferramentas. Por isso eu acho que um fato se tornou inegável nesta pandemia: o professor é insubstituível.

Dheyni e seus alunos.
 

3. Em sua trajetória profissional, houve algum momento em que pensou em desistir? Por quê?

Alguns pensamentos semelhantes já surgiram na minha cabeça sim. Principalmente em duas ocasiões: quando percebo que não consigo realizar meus sonhos materiais com o salário que recebo e quando me frustro muito com o sistema educacional que nos “culpa” pela não aprendizagem dos alunos, nos “obrigando” a empurrá-los para o ano seguinte sem que tenham consciência e nem a noção de consequência dos seus atos e faltas.

 

4. Coronavírus, isolamento, aulas remotas. Nesta pandemia, quais os maiores desafios, dificuldades e aprendizados que se apresentaram pra você enquanto professora e indivíduo?

Primeiramente, descobrir que eu precisava me atualizar muito tecnologicamente – logo eu, que me achava jovem e esperta em termos de tecnologia, me senti atrasada e precisei acompanhar a evolução.

Depois, o fato de não ser totalmente compreendida pelos meus alunos em algumas propostas de aula, e também a frustração em saber que eles não conseguiam aprender os conteúdos tão bem como teria sido em sala de aula.

Por fim, tanta burocracia gerou um enorme desgaste físico e emocional, pois tínhamos que guardar prints, fotos, materiais que comprovassem que enviamos e que recebemos as aulas e, pior: que fomos atrás daqueles alunos que não estavam nos mandando as atividades. Precisamos fazer relatórios quinzenais e mensais sobre os conteúdos repassados, as atividades feitas, as habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) desenvolvidas em determinada aula... Tantas fotos e materiais recebidos e enviados encheram nossos celulares. Tínhamos que copiar dados para o notebook semanalmente. Olha, foi um caos!

Como aprendizado, o fato de que nada substitui a presença física, o contato visual, um toque, um gesto de incentivo, um carinho, um abraço. Tudo isso qualifica não só o ambiente escolar, mas torna humano qualquer lugar.

 

5. Em um dos parágrafos do seu texto, Professor: inspiração, você diz:

“Na verdade, o professor realiza um trabalho complexo que parece simples aos olhos da sociedade. Meu pai mesmo já me disse uma vez: “ah, mas pelo menos no ano que vem você já terá todas as aulas prontas”. Infelizmente, essa afirmação é ilusória. Mesmo que eu deixe as aulas, dia por dia, prontinhas, registradas e salvas em arquivo Word ou em PDF, com um relatório inteiro escrito à mão com letra cursiva num caderno de planejamento, eu não terei as aulas prontas para o próximo ano. Sabe por quê? Porque as coisas mudam, o mundo muda, os fatos mudam a todo instante e as minhas aulas precisam sempre estar atualizadas; porque a turma não será mais a mesma no ano seguinte e eu precisarei me adaptar ao ritmo do aprendizado da nova classe; porque eu preciso renovar e inovar minhas metodologias de ensino constantemente a fim de despertar o interesse dos meus alunos. Enfim, nosso trabalho é muito mais subjetivo do que muitos pensam”.

Como você se adapta e se movimenta em meio a tantas transformações?

Há alguns anos eu trabalho com turmas do 9º ano do ensino fundamental e promovo produções textuais de crônicas, dissertações, artigos de opinião, entre outros gêneros que abordam temas atuais. Não há como eu levar para a sala de aula, no ano de 2021, por exemplo, a notícia de que Barack Obama foi presidente dos Estados Unidos, pois muitos dos meus alunos provavelmente não lembrarão, outros nem saberão quem é Barack Obama (a não ser que se faça uma breve revisão histórica). As letras das músicas do Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Titãs, são ótimas para serem analisadas, mas antigas demais para os nossos pupilos. Infelizmente, a grande maioria nunca ouviu. E isso me torna tão velha!

Logo que comecei a dar aulas, em 2015, eu adorava pegar o aparelho datashow e mostrar vídeos curtos ou slides para as turmas. Os alunos adoravam! Era algo inovador, mas, infelizmente, isso já não é mais novidade para os adolescentes. Por isso, é preciso estar de olho nos gostos dos jovens e atualizada nos acontecimentos do mundo para a preparação de boas aulas, em que se possa desenvolver o pensamento e o senso crítico nos estudantes. 

Dheyni e seus alunos.

6. Como você vê a educação pós-pandemia? Vai melhorar? Vai piorar? Vai ficar igual? Neste cenário, quais teus planos daqui pra frente enquanto educadora?

Acredito que a educação vai melhorar. Com a pandemia, pais, alunos, sociedade e os próprios professores criaram maior consciência da importância dessa área. Eu espero que os alunos, os pais e a sociedade nos valorizem mais, reconheçam que nossa função não é simples e que nosso papel não é o mesmo que o da família; que a família nos ajude, caminhando junto com a escola, participando mais da vida escolar do(s) seu(s) filho(s), permanecendo ao nosso lado.

Meus planos são seguir em frente como educadora, acompanhando as transformações e qualificando sempre a minha forma de ensinar e os meus métodos de trabalho. E aprendendo também, para me tornar uma pessoa e uma professora melhor.