Por Jana Lauxen.
Qual é o papel do
estudante diante de sua escola, de sua cidade e de seu país? Qual é a sua
importância para o futuro?
Essas foram as perguntas
feitas a alunos de dez escolas públicas de Carazinho/RS e região que,
convidados a escrever sobre o tema “Eu, estudante, minha cidade, meu país e
nosso futuro”, não se intimidaram: encararam a folha em branco e a preencheram
com suas palavras, seus sonhos, seus medos, sua imaginação e, acima de tudo, sua
incrível capacidade de observar e absorver.
O coletivo literário
escolar Ao aluno, a palavra é uma
sequência do projeto Ao professor, a palavra, livro lançado em 2020 pela Editora Os Dez Melhores reunindo textos
de 14 educadoras brasileiras versando sobre ser professor. Agora, seguindo com
nossa busca de ouvir as vozes que nascem na sala de aula, apresentamos essa
obra para você, leitor, trazendo contos, crônicas e poesias de 26
estudantes gaúchos do 6º, 7º e 8º anos.
Muitos dirão que esse
livro é uma grande oportunidade para nossos alunos pensarem, escreverem e compartilharem
seus escritos, publicando e vivenciando a experiência de ser um escritor.
Porém, particularmente, eu acho que a grande oportunidade pertence aos
leitores, isto é, a nós.
Nós, adultos,
professores, pais, mães, famílias e comunidade, que temos agora o privilégio de
conhecer mais e melhor o que se passa na cabeça e no coração dessa gurizada.
Falo de nós, que ganhamos uma preciosa chance, em formato de livro, de aprender
com os nossos alunos.
Sim, porque, erroneamente,
gostamos de acreditar que somos nós quem os educamos, o que é verdade até certo
ponto. Contudo, nos equivocamos quando pensamos que só temos a ensinar aos mais
jovens, e não a aprender com eles. Porque eu acredito realmente que, quando
ouvimos sem julgamentos ou críticas o que dizem nossas crianças e adolescentes,
possibilitamos a nós mesmos descobrir uma vastidão de novas ideias e conhecimentos,
maneiras inesperadas e criativas de perceber e ler o mundo, de interagir com as
pessoas e com os acontecimentos – de um jeito que só quem ainda não viciou seu
olhar é capaz de fazer.
Nada me incomoda mais do
que adultos repetindo que a nossa juventude está perdida, exatamente como fizeram
nossos pais, avós, bisavós (e daí pra trás). Para mim, trata-se de uma
vergonhosa arrogância, nascida da perigosa certeza de que só temos a ensinar e
não a aprender.
É assim que acabamos
engessados em nossas pífias convicções e fechamos nossos olhos, nossa mente e
nosso coração para o novo que, como diz Belchior, sempre vem.
Quantas vezes, no último
ano, você ouviu de verdade uma criança ou um adolescente? Quando foi a última
vez que você prestou atenção no que eles dizem, sem ficar só esperando que se
calassem para, então, fazer a sua palestra e mostrar o quanto você supostamente
sabe?
Esse livro é para mim,
para você e para todo mundo capaz de compreender que, quando achamos que temos
mais a ensinar do que a aprender, é porque muito provavelmente não temos mais
nada a ensinar.
Boa leitura e bom
aprendizado para nós!