Texto: Jana Lauxen
Fotos: Fernão Duarte, Guto Albuquerque e Misael Ziech
Pessoalmente, acredito
que uma das causas do nosso adoecimento emocional coletivo nasce da ideia de
competição, que é implantada em nossa cabeça literalmente desde o berço.
Crescemos competindo na
escola, na família, na igreja, na rua, entre os amigos, até com desconhecidos.
E é competindo que adoecemos. Depressão, ansiedade, insônia, transtornos dos
mais variados. Doenças crônicas deste organismo chamado sociedade, do qual
todos nós fazemos parte, gostando ou não, querendo ou não.
Ocorre que competir nos
coloca na ilusória, porém exaustiva, obrigação de ser sempre o melhor. Motivo
pelo qual corremos o tempo todo atrás de provar que nossa grama é mais verde
que a do vizinho, o que, além de cansativo, é farta fonte de aflição. Porque
para cada “vencedor” há uma multidão de “perdedores”. Essa é a lógica da
disputa pelo pódio, onde só há lugar para um.
Mas a pior parte é que a
competição corta nossos laços uns com os outros. Só um chega em primeiro,
afinal. Quem está ao meu lado deixa de ser um aliado e se torna um adversário,
talvez um inimigo. E isso nos isola de uma forma cruel e quase imperceptível.
Fragmenta o coletivo e deixa o indivíduo vulnerável. Sozinhos somos frágeis, pequenos
e limitados. Pássaros voam em bando porque em bando são maiores, mais fortes e
estão mais seguros. Uma andorinha não faz verão e nem vai muito longe.
A Manifesta! – Festa da Cultura de Carazinho, foi pensada para
quebrar essa lógica ilógica. Porque Carazinho, como milhares de outras cidades
pequenas mundo afora, está cheia de arte escondida pelos cantos. Cultura vasta,
só que espalhada e dispersa que, por conta disso, parece não existir.
Mas junta tudo pra ver.
Procurando juntar, se não
tudo, pelo menos uma parte, a Editora Os Dez Melhores, a Coletiva Cultural
e a Fundação Cultural de Carazinho promoveram
a Manifesta, a Festa da Cultura de Carazinho, que aconteceu no dia 13 de
agosto, sábado, na Fuccar, trazendo shows, feira de arte, apresentações e
exposições com a presença de mais (bem mais) de 30 artistas locais das mais
diversas vertentes.
Uma festa plural,
coletiva, aberta e acessível, exatamente como a arte deve ser.
E um evento assim, que
procura abraçar e acolher as mais diferentes manifestações culturais de nossa
cidade, chamando não só os artistas como também a comunidade; um evento como
esse não poderia ser feito por um indivíduo apenas.
Foi preciso uma multidão!
Como a Coletiva Cultural,
que reúne artistas parceiros do projeto do vereador Bruno Berté (PDT). Desde
que assumiu, Bruno reserva todo o seu salário para investimentos em projetos
culturais em Carazinho, inclusive uma casa de cultura, que será inaugurada em
breve.
A Manifesta foi custeada
por esse fundo e a Coletiva Cultural foi absolutamente essencial para a
realização do evento.
Agradecimentos especiais
ao Luiz Freitas, responsável pelo som, pela organização das apresentações e
pelo show de encerramento da Manifesta!
Nosso muito obrigada
também ao Jair Pereira Junior, pelo interesse e dedicação em todas as fases do
projeto!
E claro, ao Bruno, por
ser diferente da maioria e fazer mais do que só falar! Isso é raro e não
deveria ser!
Desse bando faz parte
também o Jamaica, artista ativo e operante em Carazinho há pelo menos duas
décadas. Atualmente, Jamaica é o presidente da Fundação Cultural de Carazinho e
foi um dos que disse “bora fazer!” quando a Manifesta ainda era só uma ideia.
Nossa máxima gratidão ao gigante Jamaica pela amizade, pelo conhecimento
compartilhado e pela força da tua presença e existência.
À Fuccar, em especial à Ana Paula Di Domenico, vice-presidente da entidade, agradecemos pelo espaço, pela
confiança e por nos deixar entrar e ficar bem à vontade.
Porém, os organizadores
da Manifesta nada teriam a organizar se não contássemos com o apoio e a
parceria de tantos artistas locais, que nos deram a mão e seguiram com a gente
sem nem hesitar!
Falo do Coletivo de Hip
Hop BDL Fellowz*, que veio com os MCs Ekytor 157, TC$ e Vidal
e o DJ Wagner Felljay mandando ver no RAP, enquanto Douglas Onofresh e
Emerson impressionavam no breaking, deixando a geral chocada com suas manobras corporais.
Inclusive recomendo que
assista o vídeo, registrado pela indispensável Élen Sabrina, e se choque você
também. Tá aqui, de nada.
Falo do Centro de Artes Bianca Secco, cuja apresentação foi quase uma poesia. Tudo aconteceu lá fora,
sob o sol do fim da tarde, e os bailarinos pareciam flutuar em meio à Gare.
Hipnotizaram o público
(inclusive quem passava apressado pelo centro) e inspiraram futuras bailarinas
a dançar também.
Falo do Conjunto Vocal e
Instrumental da Fuccar, que abriu o evento proporcionando uma nova e
surpreendente atmosfera de sonoridades dos mais variados instrumentos.
Falo do Grupo de Teatro
Gato Preto, que apresentou Poéticas do
Sofrimento, com os artistas Leandro Zuko e Guilherme Sawyer interpretando
textos do Zuko e do escritor Fernando Pessoa. A dupla não deixou ninguém piscar
e imergiu todo mundo em sua peça, cujo único problema é que foi muito curta.
Falo outra vez do Jamaica
e da maravilhosa Patrícia Gerlach, musicista de encher o peito da gente de
orgulho. Esse duo parecia um trio, um sexteto, uma orquestra inteira, tamanha a
fartura de tons, vozes e melodias com os quais nos presentearam. Ao som de berimbau,
violino e tambor, comprovaram que a música, assim como nós, torna-se mais rica
e forte e bela conforme é mais plural.
Falo dos artistas de rua Prego Dartagnan, Niño e Edu, que lá fora faziam o impossível com seus malabares e skyline
em um espetáculo de habilidade, destreza e equilíbrio, manejando objetos como
se esses os obedecessem. Uma performance cultural de tirar o chapéu – e o
fôlego!
Falo do Sidnei Sidão,
ator, diretor, dançarino, palhaço e professor de dança de salão, além de um
patrimônio cultural vivo e atuante de Carazinho, que trouxe os ritmos populares
à Manifesta, em uma apresentação que foi aula, dança, palestra e diversão, tudo
ao mesmo tempo.
Sid, claro, colocou todo
mundo pra dançar, inclusive eu, enquanto dividia com o público um pouco do
muito que sabe.
Falo da banda Walkmans Trio e
dos músicos Luiz Freitas, Leandro Zuko e Rodolfo Rockenbach, que fecharam o
evento em grande estilo com o nosso velho amigo, o rock and roll, fazendo a
geral cantar e dançar.
Falo do Victor Perini, do
projeto musical Yelløw que, lá fora, comandava sua roda de violão, trazendo uma
nova trilha sonora para a festa da cultura, que acontecia dentro e fora da
Fuccar.
Falo do artista 33twig33 e
suas artes visuais chocantes, que aliás estão espalhadas pelas ruas de
Carazinho – quem é de olhar, vai ver. Twig, em si, é arte ambulante, daquelas
que não passam despercebidas por ninguém em lugar nenhum.
Falo da Aline Nedel, que
levou seus quitutes veganos e vegetarianos e fez a alegria dos famintos. Para
quem acha, como eu já achei, que a culinária vegana e vegetariana é sem graça e
sem gosto, recomendo fortemente que procurem a Aline e permitam que ela faça
você mudar de opinião.
Falo da Amanda Pinheiro,
da Crochê com Amor, que apresentou um
trabalho impecável, criativo e atento aos detalhes, como bolsas, peças de
decoração para casa e itens da linha baby. Um trabalho tão primoroso e bem-acabado
que, de fato, não pode ser feito de outro jeito, a não ser com amor.
Falo do Elber Rodrigues Esteriz e da Tatiane Fátima Mattos dos Santos, da Aviva Ela – Bem-estar sexual, um projeto que busca transformar a
vida das pessoas através da sexualidade sem tabus, promovendo diálogo, prazer e
satisfação. Quem passou pelo espaço da Aviva
Ela conferiu, entre outros produtos, seus sabonetes artesanais carregados
de aromas e sensações e ainda trocaram altas ideias com o Elber e a Tatiane.
Falo da Ediane Vogt, que
levou o Armário da Di com seu estiloso
brechó, seu trabalho com customização de roupas e também suas bijuterias artesanais, peças únicas e de muita personalidade!
Falo da Elenize Tibola,
que apresentou suas mandalas, desenhos e pozinhos mágicos. Afora os originais
de suas obras, Elenize também disponibilizou suas mandalas em porta-copos que,
além de lindos, são muito úteis.
Falo do Fernão Duarte e
seus múltiplos papéis. Fernão foi o responsável pela cobertura fotográfica do
evento, mas também montou sua banca, que ficou sob os cuidados de sua filha, Júlia
Duarte. Apresentando seus trabalhos com entalhe em madeira, pirografia e
fotografia, seu espaço ainda trazia peças do artista Dilon Pias Duarte, pai de
Fernão e grande artista carazinhense, cujo legado e memória seguem inspirando e
encantando quem tem a sorte de conhecer sua obra.
Falo da Mara Behneis, da
Casa do Artesão, que levou peças das mais variadas, mas todas com algo em
comum: o capricho e a originalidade que somente o que é feito à mão pode
oferecer.
Falo do Grupo de
Artesanato da Fuccar, representado na Manifesta por Maria Isabel Rodrigues, com
seus crochês e toalhas lindamente bordadas, e por Denise Nascimento, que
apresentou suas delicadas folhas bordadas.
Falo do Juliano Siqueira,
que é um grande artista local não por acaso. Seu trabalho como escultor é
apenas impressionante e o que esse cara é capaz de fazer com arames não é fácil
de explicar e muito menos de entender. Sem mais, deixo fotos.
Falo do Alexandre Durigon,
do Mammalia – Sebo e Livros Customizados,
que provocou alvoroço nos viciados literários, que mantiveram sua banca rodeada
e seus livros de mãos em mãos – que é exatamente onde o livro deve estar.
Falo dos escritores Patrícia Godoy Ritter de Bairos, Clarice Correa e Roberto Cruz, que levaram seus livros e puderam conhecer e conversar com leitores de todas as idades, estreitando a distância entre autor e leitor.
Falo da Tainá Doces e sua
fantástica confeitaria, que sempre adoçam qualquer ambiente com magníficos
bolos e docinhos – em seu cardápio tem mais de 30 opções de brigadeiro,
inclusive de batata doce, milho verde e bacon.
Mas na banca da Tainá não
tinha só alimento para o corpo, mas também para a mente e para o coração: ao
lado dos bolos e docinhos estavam as Abayomi, pequenas bonecas sem costura,
feitas somente com nós, que são entregues como um presente a quem por ali passa.
Abayomi, em iorubá, significa “encontro precioso”, ou seja: nada mais certeiro.
Falo da Vanessa Arendt,
em minha opinião, uma das maiores retratistas de Carazinho e possivelmente de
toda a região. Quando se trata de desenhar, Vanessa manda muito bem, não
importa o que seja. Porém, para a Manifesta, ela apresentou seus retratos de pets,
um projeto sensacional no qual retrata animais de estimação. Seu trabalho é espantoso
e muito, muito, muito realista e não é difícil confundir uma de suas obras com
uma fotografia. Na verdade, é bem fácil.
Falo do Guto Albuquerque,
do Portal Gazeta, e do Misael Ziech, pela cobertura fotográfica da Manifesta,
emprestando seus olhares e ângulos para eternizar nossas vivências. Por motivos
óbvios, não temos fotos dos fotógrafos, mas deixamos aqui toda gratidão pelo apoio
e, principalmente, pela presença.
Falo do carinho e da
acolhida que eu, o escritor Carlos Eduardo Goodman e a Editora Os Dez Melhores recebemos
de todo mundo! Foi sensacional trocar ideias, conhecer novos autores e falar
sobre literatura uma tarde inteira!
O Carlão estava lá com
seu livro, Coisas do Interior,
lançado pela Editora Os Dez Melhores em fevereiro deste ano.
E eu levei o Cantigas de Despertar, meu último livro,
e é claro: todos os títulos disponíveis no catálogo de nosso selo – alguns bem
baratinhos, por apenas 15 pilas!
Quem passou pela nossa
banca também ganhou um poema, trechos de algumas das poesias presentes em meu
último livro.
Falo da Élen Sabrina, que
fez as lives do evento e compartilhou tudo ao vivo em seu perfil no Instagram,
permitindo a quem não conseguiu ir, ir. Élen conversou com os artistas,
transmitiu os shows e apresentações e criou um registro em som e imagem muito
especial para quem estava lá. E também para quem não estava.
Para ver e rever, acesse:
partes 1, 2, 3, 4, 5,
6 e 7.
Falo da Ana Paula Di Domenico, da Mara Behneis e do Paulo Behneis que, com a colaboração da Mylena
de Melo Ribeiro e da Jane Bruhn, venderam cachorro-quente, água e refrigerante
na Manifesta! Obrigada por manter todo mundo alimentado e hidratado!
Falo do grandioso Tiago Kreutzer, artista, maestro e amigo muito querido, que se fez presente e trouxe,
com a sua presença, um pouco de História com H maiúsculo.
Tiago, para quem não
sabe, foi um dos idealizadores do Sábado Cultural, que ocorreu em 2016 também
na Fuccar e no qual a Manifesta foi abertamente inspirada.
Logo, contar com ele
nesse dia foi mais do que especial; foi essencial! Uma prova cabal da
importância de estarmos juntos em todos os momentos.
Falo dos artistas que
atenderam ao chamado e compareceram em peso, muitos levando sua arte para expor
também.
Entendam: a Manifesta não
é e nunca será uma panelinha fechada no umbigo de meia dúzia – problema
tristemente frequente e que nos remete ao início desse texto e à famigerada
competição.
Todos os artistas locais
são muito bem-vindos a se manifestar em nossa festa, hoje e sempre!
Então, se você é artista
e mora pelas bandas de Carazinho e região, se cadastre no Observatório de Arte Local e cola na gente!
Falo, é claro, do
público, da comunidade, da galera que foi e prestigiou! Crianças e vovôs,
adolescentes, adultos, bebês, geral. A Manifesta é exatamente sobre isso:
integração entre quem produz e quem consome cultura. Porque festa, como arte, é
comunhão, é celebração, é junção e união. Ninguém faz uma festa sozinho e
nenhum artista cria para guardar na gaveta. Logo, não existe Manifesta sem
você.
Que possamos seguir em
movimento. Não correndo, não competindo, não atropelando e se atropelando.
Apenas caminhando em frente, lado a lado – e por mais poético que isso pareça,
não estou tentando ser romântica aqui.
Basta raciocinar: se
juntos somos mais fortes; se juntos estamos mais seguros; se juntos nos
tornamos maiores e, consequentemente, todos nós nos beneficiamos de tudo isso, por
que raios iríamos separados? Não só não faz sentido como é uma tolice.
Então vamos voando em
bando que assim voamos mais longe.
Combinado?
Veja mais fotos da
Manifesta aqui, aqui e aqui.