quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A Fome – um texto sobre o 1º Sábado Cultural em Carazinho/RS



Durante muito tempo eu vivi sentindo que faltava alguma coisa na minha vida.
Desde a adolescência, e até bem pouco tempo atrás, uma constante sensação de fome pairava em torno de mim, como um fantasma, como uma nuvem que não chove. Uma fome que eu nunca soube definir exatamente de que, e por isso não conseguia saciar.
A literatura, de certa forma, sempre amenizou este apetite que me assombrava e consumia, mas eu percebia que, dentro da literatura, eu também não havia encontrado o meu espaço. Sentia como se eu estivesse no lugar certo, fazendo a coisa errada.
No entanto, ano passado, a vida sambou – como sempre samba – e apareceu a oportunidade inesperada de realizar uma Mostra de Arte em Carazinho, iniciativa do Rancho Cavalo de Troia. E foi ali, naquela ocasião, que eu descobri de onde vinha tanta fome. Naquele dia eu saquei por que aquela sensação de vazio me rondava, e como eu poderia acabar definitivamente com ela.
A solução, a saída, a cura, estava nos outros.


Porque tentar fazer tudo sozinho é o caminho certo para criar um rombo em nossas vidas. E como eu sempre escrevi – um trabalho absolutamente solitário e silencioso – criar relações, diálogos e conexões com outras pessoas na hora de trabalhar foi algo que nunca passou pela minha cabeça.
Mas acontece que a vida tem os seus próprios planos, e sem pensar nem planejar me vi cercada de pessoas incríveis;

Na foto aparecem 16, mas somos muitos. ;)

Cheias de ideias;


Cheias de disposição;


Com vontade de fazer acontecer.


E como um dominó impulsionado rapidamente alcança o outro, que alcança o outro, que alcança o outro, esta rede foi crescendo,


Aparecendo,


Amadurecendo,


Multiplicando-se.


E, um ano depois, veja só o que aconteceu: o bando aumentou, e como acontece com todo bando, quanto maior ele for, mais forte ele é.


Esta movimentação cultural, que nasceu e cresceu no Rancho Cavalo de Troia, saiu do interior e chegou ao centro.


O 1º Sábado Cultural em Carazinho/RS foi a comprovação final de que aquele velho ditado, que fala da força da união, é uma das verdades absolutas do universo.


Afinal, o Sábado Cultural, assim como as três edições da Mostra de Arte, aconteceram única e exclusivamente por conta da vontade de fazer de cada um.


Nunca houve patrocínio, verbas públicas, apadrinhamentos, jabá, costas quentes, favorecimentos, panela, tretas. Tudo muito colaborativo e independente, com cada um fazendo a sua parte de boa, de coração aberto.


Uma verdadeira democracia cultural.


Por isso deu e está dando certo.


Porque não há uma hierarquia, não há um maior que o outro.


Trata-se, isto sim, de um projeto aberto, cooperativo, onde todos são importantes, mas nenhum é insubstituível.


Por isso, é impossível descrever em uma simples resenha tudo o que aconteceu na Fuccar durante a 1ª edição do Sábado Cultural. Eu precisaria escrever um livro, talvez uma trilogia.


Então, só posso dizer, com as parcas palavras que encontro em nosso dicionário, que todos que se envolveram no projeto; que expuseram seus trabalhos; que se apresentaram no palco; que divulgaram, que compareceram, que prestigiaram; todos deste bando fizeram do Sábado Cultural um sucesso.


 “Sou, porque somos”, já pregava um antigo conceito africano chamado Ubuntu.


E desde que eu compreendi tudo isso, o fantasma da fome eterna sumiu. Escafedeu-se. Virou fumaça e se dissipou no ar. Não sinto mais fome, não sinto mais vazio.


Olho para os lados e vejo que, finalmente, estou no lugar certo fazendo a coisa certa.


E, penso eu, deve ser isso que chamam de felicidade.


Obrigada, Carazinho/RS!
Se eu pudesse, eu abraçaria longamente cada um que esteve na Fuccar dia 30 de julho, entre 14h e 20h, durante a 1ª edição do Sábado Cultural.


Vocês são o alimento que eu preciso – que nós precisamos – para poder levar a vida com satisfação.

  
Todas as fotos que ilustram este texto foram registradas durante o 1º Sábado Cultural em Carazinho/RS, pelos fotógrafos Fernão Duarte e Felipe Granville.
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