Por
Jana Lauxen.
Durante muito tempo eu vivi
sentindo que faltava alguma coisa na minha vida.
Desde a adolescência, e até bem
pouco tempo atrás, uma constante sensação de fome pairava em torno de mim, como
um fantasma, como uma nuvem que não chove. Uma fome que eu nunca soube definir
exatamente de que, e por isso não conseguia saciar.
A
literatura, de certa forma, sempre amenizou este apetite que me assombrava e
consumia, mas eu percebia que, dentro da literatura, eu também não havia
encontrado o meu espaço. Sentia como se eu estivesse no lugar certo, fazendo a
coisa errada.
No entanto, ano passado, a vida
sambou – como sempre samba – e apareceu a oportunidade inesperada de realizar
uma Mostra de Arte em Carazinho,
iniciativa do Rancho Cavalo de Troia.
E foi ali, naquela ocasião, que eu descobri de onde vinha tanta fome. Naquele
dia eu saquei por que aquela sensação de vazio me rondava, e como eu poderia
acabar definitivamente com ela.
A solução, a saída, a cura,
estava nos outros.
Porque tentar fazer tudo
sozinho é o caminho certo para criar um rombo em nossas vidas. E como eu sempre
escrevi – um trabalho absolutamente solitário e silencioso – criar relações,
diálogos e conexões com outras pessoas na hora de trabalhar foi algo que nunca
passou pela minha cabeça.
Mas acontece que a vida tem os
seus próprios planos, e sem pensar nem planejar me vi cercada de pessoas
incríveis;
Na foto aparecem 16, mas somos muitos. ;) |
Cheias de ideias;
Cheias de disposição;
Com vontade de fazer acontecer.
E como um dominó impulsionado
rapidamente alcança o outro, que alcança o outro, que alcança o outro, esta
rede foi crescendo,
Aparecendo,
Amadurecendo,
Multiplicando-se.
E, um ano depois, veja só o que
aconteceu: o bando aumentou, e como acontece com todo bando, quanto maior ele
for, mais forte ele é.
Esta movimentação cultural, que
nasceu e cresceu no Rancho Cavalo de Troia,
saiu do interior e chegou ao centro.
O 1º Sábado Cultural em Carazinho/RS foi a comprovação final de que aquele
velho ditado, que fala da força da união, é uma das verdades absolutas do
universo.
Afinal, o Sábado Cultural, assim como as três edições da Mostra de Arte, aconteceram única e exclusivamente por conta da
vontade de fazer de cada um.
Nunca houve patrocínio, verbas
públicas, apadrinhamentos, jabá, costas quentes, favorecimentos, panela, tretas.
Tudo muito colaborativo e independente, com cada um fazendo a sua parte de boa,
de coração aberto.
Uma verdadeira democracia
cultural.
Por isso deu e está dando
certo.
Porque não há uma hierarquia,
não há um maior que o outro.
Trata-se, isto sim, de um
projeto aberto, cooperativo, onde todos são importantes, mas nenhum é insubstituível.
Por
isso, é impossível descrever em uma simples resenha tudo o que aconteceu na Fuccar durante a 1ª edição do Sábado Cultural. Eu precisaria escrever
um livro, talvez uma trilogia.
Então,
só posso dizer, com as parcas palavras que encontro em nosso dicionário, que
todos que se envolveram no projeto; que expuseram seus trabalhos; que se
apresentaram no palco; que divulgaram, que compareceram, que prestigiaram; todos
deste bando fizeram do Sábado Cultural
um sucesso.
“Sou, porque somos”, já pregava um antigo
conceito africano chamado Ubuntu.
E desde que eu compreendi tudo
isso, o fantasma da fome eterna sumiu. Escafedeu-se. Virou fumaça e se dissipou
no ar. Não sinto mais fome, não sinto mais vazio.
Olho para os lados e vejo que,
finalmente, estou no lugar certo fazendo a coisa certa.
E, penso eu, deve ser isso que
chamam de felicidade.
Obrigada, Carazinho/RS!
Se eu pudesse, eu abraçaria
longamente cada um que esteve na Fuccar
dia 30 de julho, entre 14h e 20h, durante a 1ª edição do Sábado Cultural.
Vocês são o alimento que eu
preciso – que nós precisamos – para poder levar a vida com satisfação.
Todas
as fotos que ilustram este texto foram registradas durante o 1º Sábado Cultural em Carazinho/RS, pelos
fotógrafos Fernão Duarte e Felipe Granville.
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