“A educação não se dá apenas dentro dos muros da
escola”
Cristina
Andreis Lunkes Hartmann, autora do texto Ser professor, eis a missão!, publicado no livro Ao professor, a palavra, nasceu em Carazinho/RS em 30/07/1976 e é graduada em
Pedagogia (licenciatura plena) pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e
pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões (URI).
Já
atuou como coordenadora da 39ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e na
Coordenação Pedagógica da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação
de Carazinho. Também trabalhou na educação
infantil (maternal I e II e jardim I e II) e na
coordenação pedagógica das EMEIs Dr. Ataídes Conceição Osório, Esperança e
Princesinha.
Além
destas, lecionou em diferentes escolas, como o Colégio Sinodal Rui Barbosa,
EMEI Santa Rita de Cássia e no Instituto Estadual Educacional Júlia Billiart,
de Chapada.
Atualmente
é diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Ataídes Conceição
Osório, de Carazinho.
1.
Quem é Cristina Andreis Lunkes Hartmann na visão de Cristina Andreis Lunkes
Hartmann?
Uma mulher de 44 anos, mãe, professora,
aprendente, um ser humano que procura ser justo, coerente, responsável e que
pensa muitas vezes antes de tomar uma atitude.
2.
Você é filha de professora. Quais as principais diferenças que você percebe
entre a escola na qual sua mãe lecionou e a escola em que você leciona? Na sua
visão, o que mudou? O que melhorou? O que piorou?
Quando ia junto com minha mãe à escola em que ela lecionava, olhava para aquele lugar como um espaço de vida. Não tinha a dimensão do que, de fato, é uma escola, sua função e a dinâmica que envolve todo este espaço.
Hoje, a escola está precisando reavaliar o seu papel.
Separar o que é de sua responsabilidade e o que compete à família. Acredito que
o modo como as pessoas olham para a escola mudou. Estamos nos reestruturando
para tornar a escola cada vez mais atrativa, sem perder o foco, sem perder o
olhar para o aluno, para o professor e para o que cabe à escola.
3.
Em seu texto, Ser professor, eis a missão!, você diz:
“...
É preciso refletir sobre o papel da escola como agente de transformação. A educação não se dá exclusivamente entre quatro
paredes. Precisamos desemparedar nossas crianças (...)”.
Como
podemos fazer isso?
Atualmente, a educação infantil é vista
como um espaço importante para a vida das crianças, de grandes e significativas
aprendizagens.
Nas
últimas décadas, a concepção de educação infantil vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado
como algo indissociável do processo educativo. Com este pensamento, entende-se
que a educação não se dá apenas dentro dos muros da escola. A aprendizagem
ocorre dentro do espaço familiar, com a interação com seus pares, no
contato com a natureza, com o meio ambiente, enfim, com as relações que a criança
estabelece com o seu meio.
A
escola é o local onde as crianças têm a oportunidade de rever seus conceitos,
trocar ideias, interagir e reconstruir saberes com a mediação de um
adulto, capacitado e preparado para as aprendizagens de nossos pequenos.
Portanto, as relações que ela estabelece com o meio são aprendizagens, não se limitando às paredes da escola.
4.
Atualmente você é diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Ataídes
Conceição Osório, de Carazinho/RS. Neste um ano de pandemia e isolamento, quais
os maiores desafios e dificuldades que enfrentou enquanto gestora em relação
aos professores, aos alunos e suas famílias?
Desde março de 2020 estamos afastados
do convívio na forma presencial. Por ser a escola um espaço de relações – especialmente
a educação infantil, onde o colo, o abraço, o partilhar e compartilhar são
ações constantes e fundamentais nesta etapa – sentimos a ausência de nossos
pequenos. O único contato com eles foi, e está sendo, virtual e este
afastamento deixou a escola sem vida, sem barulhos, sem risos, sem abraços, sem
o seu colorido.
De um dia para o outro, reestruturamos
a escola. Foi uma adaptação para todos: professores, funcionários, pais e,
especialmente, para as crianças, que se viram impedidas de frequentar este
espaço, tão feliz e alegre para elas. Desde então, os professores que fazem
parte de nossa escola readaptaram suas aulas e suas ações, a fim de manter o
vínculo com seus alunos.
Enquanto escola, nossas reuniões e
planejamentos se tornaram on-line; as atividades para nossas crianças foram
enviadas para casa, muitas vezes através dos grupos de WhatsApp da turma. Neste sentido, contamos com o apoio dos
pais quanto ao envolvimento e participação nas atividades propostas. Até o
presente momento, a escola está vivendo este formato: professores em atividade
remota e crianças em casa.
Estamos aguardando ansiosamente por
este retorno presencial, mesmo que seja através dos protocolos sanitários. Desejamos
revê-los, encantá-los com nossos olhares, com nossas propostas de atividades,
de brincadeiras, tornando, aos poucos, a escola um espaço feliz outra vez.
5.
Fala-se que, com a pandemia, o trabalho invadiu definitivamente a casa dos
professores: a cozinha virou escola; o quarto, sala de aula; não há mais
horário de início e fim. Porém, de certo modo, sempre foi assim, já que o
trabalho do professor não termina quando acaba a aula, uma vez que ele precisa
preparar a próxima aula, corrigir provas etc. – trabalho extra, pelo qual não
são remunerados.
Assim
sendo, qual o papel da sua família em sua trajetória como professora? Você já
foi questionada por dedicar muito tempo à escola e aos alunos?
Minha família sempre me apoiou, desde a
escolha da minha profissão. Por vir de uma família de professoras, tanto da
parte da minha mãe como da minha sogra, meu marido já estava acostumado com
este processo: sábados letivos na escola, finais de tarde de planejamentos,
reuniões, planejamentos de aulas, recortes, colagem, pesquisas, enfim... Meus
filhos, sempre que possível, participam comigo destes momentos, como das
festividades da escola e a realização de atividades propostas aos meus alunos.
Atualmente, por já estarem maiores, compreendem que todos os momentos dedicados
à escola fazem parte da minha profissão e da escolha que fiz, e do quanto sou
feliz e realizada neste universo escolar.
6.
Em 2019 você atuou como coordenadora da 39ª Coordenadoria Regional de Educação
(CRE). Quais os maiores aprendizados que ficaram desta experiência?
Ao assumir como coordenadora interina
da 39ª CRE, acredito que tenha sido este o maior desafio profissional da minha
carreira. Era um espaço novo, tanto na estrutura física como na
responsabilidade que o cargo impõe. Primeiro, aceitar o desafio foi uma
aprendizagem. Superei o medo de assumir algo novo! Foram meses de grandes
desafios, mas também de grandes aprendizagens. A soma de tudo isso foi a que me
tornei um ser humano mais forte, mais seguro, mais humano.
No entanto, cabe reforçar que, quando
assumimos qualquer cargo de chefia, precisamos ter uma equipe também forte, e
esta foi a equipe que eu tinha: competente, responsável e, sobretudo, com
espírito de equipe. Sou imensamente grata pela oportunidade de conviver com
pessoas tão competentes, íntegras e comprometidas.