sexta-feira, 26 de março de 2021

Entrevista com Cristina Andreis Lunkes Hartmann!

 

“A educação não se dá apenas dentro dos muros da escola”

Cristina Andreis Lunkes Hartmann, autora do texto Ser professor, eis a missão!, publicado no livro Ao professor, a palavra, nasceu em Carazinho/RS em 30/07/1976 e é graduada em Pedagogia (licenciatura plena) pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI).

Já atuou como coordenadora da 39ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e na Coordenação Pedagógica da Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Carazinho. Também trabalhou na educação infantil (maternal I e II e jardim I e II) e na coordenação pedagógica das EMEIs Dr. Ataídes Conceição Osório, Esperança e Princesinha.

Além destas, lecionou em diferentes escolas, como o Colégio Sinodal Rui Barbosa, EMEI Santa Rita de Cássia e no Instituto Estadual Educacional Júlia Billiart, de Chapada.

Atualmente é diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Ataídes Conceição Osório, de Carazinho.

 

1. Quem é Cristina Andreis Lunkes Hartmann na visão de Cristina Andreis Lunkes Hartmann?

Uma mulher de 44 anos, mãe, professora, aprendente, um ser humano que procura ser justo, coerente, responsável e que pensa muitas vezes antes de tomar uma atitude. 

 

2. Você é filha de professora. Quais as principais diferenças que você percebe entre a escola na qual sua mãe lecionou e a escola em que você leciona? Na sua visão, o que mudou? O que melhorou? O que piorou?

Quando ia junto com minha mãe à escola em que ela lecionava, olhava para aquele lugar como um espaço de vida. Não tinha a dimensão do que, de fato, é uma escola, sua função e a dinâmica que envolve todo este espaço. 

Hoje, a escola está precisando reavaliar o seu papel. Separar o que é de sua responsabilidade e o que compete à família. Acredito que o modo como as pessoas olham para a escola mudou. Estamos nos reestruturando para tornar a escola cada vez mais atrativa, sem perder o foco, sem perder o olhar para o aluno, para o professor e para o que cabe à escola. 

 

3. Em seu texto, Ser professor, eis a missão!, você diz:

“... É preciso refletir sobre o papel da escola como agente de transformação. A educação não se dá exclusivamente entre quatro paredes. Precisamos desemparedar nossas crianças (...)”.

Como podemos fazer isso? 

Atualmente, a educação infantil é vista como um espaço importante para a vida das crianças, de grandes e significativas aprendizagens. 

Nas últimas décadas, a concepção de educação infantil vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Com este pensamento, entende-se que a educação não se dá apenas dentro dos muros da escola. A aprendizagem ocorre dentro do espaço familiar, com a interação com seus pares, no contato com a natureza, com o meio ambiente, enfim, com as relações que a criança estabelece com o seu meio.

A escola é o local onde as crianças têm a oportunidade de rever seus conceitos, trocar ideias, interagir e  reconstruir saberes com a mediação de um adulto, capacitado e preparado para as aprendizagens de nossos pequenos.

Portanto, as relações que ela estabelece com o meio são aprendizagens, não se limitando às paredes da escola. 


4. Atualmente você é diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Ataídes Conceição Osório, de Carazinho/RS. Neste um ano de pandemia e isolamento, quais os maiores desafios e dificuldades que enfrentou enquanto gestora em relação aos professores, aos alunos e suas famílias?

Desde março de 2020 estamos afastados do convívio na forma presencial. Por ser a escola um espaço de relações – especialmente a educação infantil, onde o colo, o abraço, o partilhar e compartilhar são ações constantes e fundamentais nesta etapa – sentimos a ausência de nossos pequenos. O único contato com eles foi, e está sendo, virtual e este afastamento deixou a escola sem vida, sem barulhos, sem risos, sem abraços, sem o seu colorido.

De um dia para o outro, reestruturamos a escola. Foi uma adaptação para todos: professores, funcionários, pais e, especialmente, para as crianças, que se viram impedidas de frequentar este espaço, tão feliz e alegre para elas. Desde então, os professores que fazem parte de nossa escola readaptaram suas aulas e suas ações, a fim de manter o vínculo com seus alunos.

Enquanto escola, nossas reuniões e planejamentos se tornaram on-line; as atividades para nossas crianças foram enviadas para casa, muitas vezes através dos grupos de WhatsApp da turma. Neste sentido, contamos com o apoio dos pais quanto ao envolvimento e participação nas atividades propostas. Até o presente momento, a escola está vivendo este formato: professores em atividade remota e crianças em casa.

Estamos aguardando ansiosamente por este retorno presencial, mesmo que seja através dos protocolos sanitários. Desejamos revê-los, encantá-los com nossos olhares, com nossas propostas de atividades, de brincadeiras, tornando, aos poucos, a escola um espaço feliz outra vez.

 

5. Fala-se que, com a pandemia, o trabalho invadiu definitivamente a casa dos professores: a cozinha virou escola; o quarto, sala de aula; não há mais horário de início e fim. Porém, de certo modo, sempre foi assim, já que o trabalho do professor não termina quando acaba a aula, uma vez que ele precisa preparar a próxima aula, corrigir provas etc. – trabalho extra, pelo qual não são remunerados. 

Assim sendo, qual o papel da sua família em sua trajetória como professora? Você já foi questionada por dedicar muito tempo à escola e aos alunos?

Minha família sempre me apoiou, desde a escolha da minha profissão. Por vir de uma família de professoras, tanto da parte da minha mãe como da minha sogra, meu marido já estava acostumado com este processo: sábados letivos na escola, finais de tarde de planejamentos, reuniões, planejamentos de aulas, recortes, colagem, pesquisas, enfim... Meus filhos, sempre que possível, participam comigo destes momentos, como das festividades da escola e a realização de atividades propostas aos meus alunos. Atualmente, por já estarem maiores, compreendem que todos os momentos dedicados à escola fazem parte da minha profissão e da escolha que fiz, e do quanto sou feliz e realizada neste universo escolar.

 

6. Em 2019 você atuou como coordenadora da 39ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Quais os maiores aprendizados que ficaram desta experiência?

Ao assumir como coordenadora interina da 39ª CRE, acredito que tenha sido este o maior desafio profissional da minha carreira. Era um espaço novo, tanto na estrutura física como na responsabilidade que o cargo impõe. Primeiro, aceitar o desafio foi uma aprendizagem. Superei o medo de assumir algo novo! Foram meses de grandes desafios, mas também de grandes aprendizagens. A soma de tudo isso foi a que me tornei um ser humano mais forte, mais seguro, mais humano.

No entanto, cabe reforçar que, quando assumimos qualquer cargo de chefia, precisamos ter uma equipe também forte, e esta foi a equipe que eu tinha: competente, responsável e, sobretudo, com espírito de equipe. Sou imensamente grata pela oportunidade de conviver com pessoas tão competentes, íntegras e comprometidas.