sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

“Inspiração: Substantivo Feminino”: uma pequena revolução


Texto: Jana Lauxen
Fotos: Bia Barzotto

Quando uma mulher aprende a admirar outra mulher; a ver nela cumplicidade, ao invés de rivalidade, parceria ao invés de concorrência, uma pequena revolução acontece.

Afinal, desde muito pequenininhas, aprendemos que “mulher não é amiga de mulher”. Somos ensinadas que a outra é sempre uma potencial inimiga, mesmo quando é amiga – talvez, principalmente quando é amiga. A competição é para ver quem é a mais bonita, a mais popular, a mais magra, a mais desejada, a mais prendada, a mais inteligente, a mais bem-sucedida, a mais isso, a mais aquilo. E se – Deus me livre! – a outra for “mais”, eu a declaro minha rival, minha oponente, meu desafeto.
Daí porque existem tantas mulheres criticando, depreciando, julgando e condenando outras mulheres. Trata-se de puro e simples condicionamento social, algo que fazemos automaticamente, quase sem perceber. Falar mal e apontar o dedo para a outra nos faz sentir que somos melhores do que ela, supostamente aumentando nossa pontuação neste jogo; um jogo que definitivamente não podemos ganhar. 
A estratégia é antiga, mas funciona: dividir para conquistar.
Entretanto, quando uma mulher, uma única mulher neste planeta percebe a grande cilada; quando se dá conta de que a outra não só não é sua inimiga, como também é sua aliada, uma rachadura aparece nesta muralha milenar que nos divide e nos separa; que nos maltrata e que ainda nos mata.
Há quem diga: “ora, uma rachadura não faz diferença nenhuma”. Muitas rachaduras, no entanto, provocam o colapso de toda esta estrutura que nos mantêm cativas.
E nós, minhas amigas, somos muitas.

Escrever o livro “Inspiração: Substantivo Feminino” foi um jeito que encontrei de abrir uma pequenina fenda neste muro e colaborar um pouquinho mais para sua queda definitiva.

Um jeito de olhar mais de perto as mulheres que me rodeiam e dizer a cada uma: eu estou ao seu lado.

Estão reunidas no meu quarto livro, “Inspiração: Substantivo Feminino”, 24 crônicas poéticas sobre 24 mulheres que, das mais diferentes formas, me impulsionam e me inspiram a querer ser alguém melhor.

Porém, elas também representam todas as mulheres que, diariamente e cada uma à sua maneira, criam rachaduras nesta muralha que nos confina e nos encolhe.

Refiro-me às mulheres que, neste exato momento, em algum lugar deste planeta, estão percebendo a cilada, desconstruindo antigos conceitos, desaprendendo velhas lições e reaprendendo a se reconhecer naquelas que a cercam; naquelas que vieram antes e também naquelas que virão depois.

Mulheres que, enquanto você lê esta resenha, provocam sua pequena revolução de modo anônimo e geralmente discreto; porém implacável.

Falo de mim, de você e delas, de todas elas.

“Inspiração: Substantivo Feminino” busca lançar um olhar sobre a mulher dita comum, mas que, apenas existindo, resiste e luta. Que não necessariamente levanta uma bandeira, pois é a sua própria bandeira. Aquela mulher que você conhece da rua, de casa, do mercado, do ponto de ônibus e do trabalho; aquela que você reconhece no espelho e na tela da TV desligada.

São as pequenas revoluções que promovem a grande mudança, e toda mulher é uma pequena revolução, deflagrada ou não.

O lançamento do livro “Inspiração: Substantivo Feminino”, que aconteceu no último sábado, dia 07/12, no Garage Burger, em Carazinho/RS, foi uma celebração às pequenas revoluções diárias e silenciosas, conflagradas cada vez que uma de nós baixa a guarda e se desarma, porque finalmente é capaz de se ver naquela com quem antes combatia.
Um momento especial de olhar para fora e para dentro, para a outra e também para si mesma.

De reafirmar que mulher é amiga de mulher sim senhor, e é ainda mais: também é aliada, irmã, cúmplice, parceira e comparsa.

Porque muro algum pode nos separar, nos sufocar e nos aprisionar quando percebemos que, afinal, somos continente e não ilha.

Somos muitas, mas juntas somos uma só.

Veja as fotos do lançamento aqui.
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