quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Com quantas histórias se faz um eu?

 

Texto: Jana Lauxen.

Fotos: Felipe Granville.

Apoio cultural: Bruno Berté.


Um momento se torna especial, e passa a fazer parte da nossa memória, quando é capaz de entusiasmar nossos sentidos e acender nossas emoções. São os sentimentos que envolvem um acontecimento que tornam este acontecimento inesquecível. Os fatos em si não importam tanto quanto o que sentimos diante de tais fatos.


O lançamento do livro Ôrí: com quantas histórias se faz um eu? já era especial antes de ocorrer. Afinal, não é todo dia que a Editora Os Dez Melhores tem a sorte e a honra de publicar uma obra que é resultado de um projeto nada menos do que revolucionário, como é o Projeto de Educação Antirracista, iniciativa extracurricular desenvolvida pela professora e historiadora Bruna Anacleto, que fez da sua sala de aula um espaço de reflexão, diálogo e transformações, levando seus alunos a pensar por cima dos muros da escola e a entender os contextos muito além dos conteúdos.


O livro reúne 41 textos e 41 ilustrações de autoria de 18 estudantes, alunos do ensino médio da Escola Estadual Cônego João Batista Sorg, que criaram releituras de contos de fadas que jamais nos representaram, também escrevendo e desenhando sobre homens e mulheres racializados, de Carazinho, do Brasil e do mundo, que fazem de sua existência um ato contínuo, corajoso e contundente de resistência e luta antirracista.


Logo, o lançamento de um livro com uma proposta tão vanguardista e provocadora só poderia resultar em uma sucessão de momentos repletos de significado, paixão, afeto e, acima de tudo, rebeldia. Sim, essa rebeldia com causa, de quem não aceita mais ser parte de uma sociedade que abandona, violenta e aparta seres humanos. Falo dessa rebeldia que pertence àqueles que estão exaustos de tanta violência, de tanto preconceito, de tanta segregação e estupidez.


Foi exatamente tudo isso o que vimos, sentimos e vivemos no dia 19 de novembro de 2024, terça-feira, véspera do feriado do Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. O salão nobre da Escola Cônego João Batista Sorg se encheu de gente que entende que não dá mais para ficar de braços cruzados enquanto pessoas são agredidas, excluídas e cerceadas em seus direitos mais básicos apenas pela cor de sua pele, pelo seu gênero, pela sua identidade sexual; apenas por serem quem são; quem somos.


E, entre todos nós, quem mais entende de futuro do que a nossa juventude? Ora, são eles, a nossa gurizada, que parecem já nascer vendo o que nós, adultos xaropes, não somos mais capazes de perceber. Pra nossa sorte, nossos jovens generosamente dividem conosco o que sabem, o que sentem, o que veem, deixando bem claro o que podemos fazer para ajudá-los a construir um amanhã mais ensolarado e menos cinza PARA TODO MUNDO, sem qualquer exceção.


O lançamento de Ôrí trouxe homenagens, leituras, conversas, poesia e trocas que mostram que a luta é dura, sim, mas não pode nem deve ser triste; que revolução se faz com firmeza, mas também com amor e doçura. 

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