Texto: Jana Lauxen.
Fotos: Felipe Granville.
Apoio cultural: Bruno Berté.
Um momento se torna especial, e passa a fazer
parte da nossa memória, quando é capaz de entusiasmar nossos sentidos e acender
nossas emoções. São os sentimentos que envolvem um acontecimento que tornam
este acontecimento inesquecível. Os fatos em si não importam tanto quanto o que
sentimos diante de tais fatos.
O lançamento do livro Ôrí: com quantas histórias se faz um eu? já era especial antes de ocorrer.
Afinal, não é todo dia que a Editora Os Dez Melhores tem a sorte e a honra de
publicar uma obra que é resultado de um projeto nada menos do que
revolucionário, como é o Projeto de Educação Antirracista, iniciativa extracurricular
desenvolvida pela professora e historiadora Bruna Anacleto, que fez da sua sala
de aula um espaço de reflexão, diálogo e transformações, levando seus alunos a
pensar por cima dos muros da escola e a entender os contextos muito além dos
conteúdos.
O livro reúne 41 textos e 41 ilustrações de
autoria de 18 estudantes, alunos do ensino médio da Escola Estadual Cônego João Batista Sorg, que criaram releituras de contos de fadas que jamais nos
representaram, também escrevendo e desenhando sobre homens e mulheres racializados,
de Carazinho, do Brasil e do mundo, que fazem de sua existência um ato contínuo,
corajoso e contundente de resistência e luta antirracista.
Logo, o lançamento de um livro com uma
proposta tão vanguardista e provocadora só poderia resultar em uma sucessão de
momentos repletos de significado, paixão, afeto e, acima de tudo, rebeldia.
Sim, essa rebeldia com causa, de quem não aceita mais ser parte de uma
sociedade que abandona, violenta e aparta seres humanos. Falo dessa rebeldia
que pertence àqueles que estão exaustos de tanta violência, de tanto
preconceito, de tanta segregação e estupidez.
Foi exatamente tudo isso o que vimos, sentimos
e vivemos no dia 19 de novembro de 2024, terça-feira, véspera do feriado do Dia
Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. O salão nobre da Escola
Cônego João Batista Sorg se encheu de gente que entende que não dá mais para
ficar de braços cruzados enquanto pessoas são agredidas, excluídas e cerceadas
em seus direitos mais básicos apenas pela cor de sua pele, pelo seu gênero,
pela sua identidade sexual; apenas por serem quem são; quem somos.
E, entre todos nós, quem mais entende de
futuro do que a nossa juventude? Ora, são eles, a nossa gurizada, que parecem
já nascer vendo o que nós, adultos xaropes, não somos mais capazes de perceber.
Pra nossa sorte, nossos jovens generosamente dividem conosco o que sabem, o que
sentem, o que veem, deixando bem claro o que podemos fazer para ajudá-los a
construir um amanhã mais ensolarado e menos cinza PARA TODO MUNDO, sem qualquer
exceção.
O lançamento de Ôrí trouxe homenagens, leituras, conversas, poesia e trocas que
mostram que a luta é dura, sim, mas não pode nem deve ser triste; que revolução
se faz com firmeza, mas também com amor e doçura.