terça-feira, 13 de abril de 2021

A melhor vacina anticonfinamento que o mundo já inventou!

Por Jana Lauxen

Esse dia foi louco.

Era 2017 e eu estava no Instituto Educacional Girassol, de Não-Me-Toque, me deliciando e me surpreendendo com os trabalhos que a gurizada fez sobre meu livro, O Duplo da Terra. Que saudades desse dia, gente! Que saudades dessa escola!

De modo que eu fico muito, muito, muito feliz mesmo em anunciar que, graças aos incríveis avanços da tecnologia, amanhã eu estarei novamente lá – não presencialmente, é claro, e sim pela tela do celular ou do computador, ministrando a palestra A literatura não é chata para as turmas do ensino fundamental e médio!

Eu AMO ministrar essa palestra, mas, neste momento em particular, ter a oportunidade de falar sobre literatura com a gurizada ganha um significado diferente, maior e mais potente.

Talvez você diga: mas quem se importa com literatura em uma hora como essa, Janaína? Desgoverno, pandemia, genocídio em curso, estupidez em massa e você querendo falar de livros?

É que eu acredito, acredito de verdade, que a literatura é capaz de salvar vidas no momento em que nutre em nós, em todos e em cada um, a capacidade de nos colocar em outras peles, sentir outras dores, viver outras vidas, experimentar outros gostos e corpos, outros sopros, outros olhos, outros chãos.

Os ridículos índices de leitura em nosso país sem dúvida ajudam a explicar nossa inabilidade em se importar com qualquer coisa além de nós mesmos.

Saúde, igualdade, prosperidade, paz. Futuro. Todos estes conceitos jamais passarão de utopias se, antes, não houver educação – mas educação de qualidade e libertadora, que nos tire definitivamente do confinamento.

Ah, se soubéssemos o quanto vivemos em quarentena intelectual, num eterno lockdown cognitivo, certamente não nos importaríamos tanto em ficar fechados em nossas casas. Afinal, passamos enclausurados em nosso miniuniverso, admirando nosso reflexo e ouvindo apenas o eco de nossa voz, feito Narciso. Só na beira e no raso, sem jamais mergulhar. E isso precisa mudar. Ou nada vai mudar.

Um amigo disse esses dias: “não parece fazer sentido nenhum escrever neste momento, ao mesmo tempo em que parece a única coisa que faz sentido”.

Por acreditar realmente que todos nós temos o direito de sair desta cadeia psíquica e deste isolamento mental, seguirei erguendo minha voz para convidar você a dar uma chance aos livros – a melhor vacina anticonfinamento que o mundo já inventou.