Por Jana Lauxen
Esse
dia foi louco.
Era
2017 e eu estava no Instituto Educacional Girassol, de Não-Me-Toque, me
deliciando e me surpreendendo com os trabalhos que a gurizada fez sobre meu livro, O Duplo da Terra. Que saudades desse dia, gente! Que saudades dessa
escola!
De modo
que eu fico muito, muito, muito feliz mesmo em anunciar que, graças aos incríveis
avanços da tecnologia, amanhã eu estarei novamente lá – não presencialmente, é
claro, e sim pela tela do celular ou do computador, ministrando a palestra A literatura não é chata para as turmas do ensino fundamental e médio!
Eu AMO ministrar
essa palestra, mas, neste momento em particular, ter a oportunidade de falar
sobre literatura com a gurizada ganha um significado diferente, maior e mais potente.
Talvez
você diga: mas quem se importa com literatura em uma hora como essa, Janaína?
Desgoverno, pandemia, genocídio em curso, estupidez em massa e você querendo
falar de livros?
É que
eu acredito, acredito de verdade, que a literatura é capaz de salvar vidas no
momento em que nutre em nós, em todos e em cada um, a capacidade de nos colocar
em outras peles, sentir outras dores, viver outras vidas, experimentar outros
gostos e corpos, outros sopros, outros olhos, outros chãos.
Os
ridículos índices de leitura em nosso país sem dúvida ajudam a explicar nossa
inabilidade em se importar com qualquer coisa além de nós mesmos.
Saúde,
igualdade, prosperidade, paz. Futuro. Todos estes conceitos jamais passarão de
utopias se, antes, não houver educação – mas educação de qualidade e libertadora,
que nos tire definitivamente do confinamento.
Ah, se
soubéssemos o quanto vivemos em quarentena intelectual, num eterno lockdown cognitivo,
certamente não nos importaríamos tanto em ficar fechados em nossas casas.
Afinal, passamos enclausurados em nosso miniuniverso, admirando nosso reflexo e
ouvindo apenas o eco de nossa voz, feito Narciso. Só na beira e no raso, sem
jamais mergulhar. E isso precisa mudar. Ou nada vai mudar.
Um amigo disse esses dias: “não parece fazer sentido nenhum escrever neste momento, ao mesmo tempo em que parece a única coisa que faz sentido”.
Por acreditar realmente que todos nós temos o direito de sair desta cadeia psíquica e deste isolamento mental, seguirei erguendo minha voz para convidar você a dar uma chance aos livros – a melhor vacina anticonfinamento que o mundo já inventou.