Por Jana Lauxen.
Há quem diga que o papel do escritor é
escrever, o que de fato é verdade. Porém, em um país que não lê, como é o caso
do Brasil, o escritor se vê compelido a assumir múltiplas funções, que vão
muito além de preencher a página em branco e contar uma história. Afinal, um
texto sem leitor é como uma casa sem moradores; como um banquete sem
convidados; como o pôr do sol sem sol.
Consciente disto, a escritora baiana Jussara Pires, que neste ano lançou seu romance de estreia, “O Cálice de Ouro”, pela
Editora Os Dez Melhores, coloca a mão na massa tanto quanto no teclado. Porque
além do seu primeiro livro, das crônicas que escreve para o “Portal Abrantes” e
de todos os textos que já publicou em diferentes coletâneas, Jussara também sai
da frente do computador e vai pra rua, pois sabe que não basta só escrever. É
preciso também promover a literatura.
Jussara Pires no lançamento de seu livro, "O Cálice de Ouro". Foto: Juarez Matias Araújo. |
Moradora de Camaçari/BA, Jussara Pires participa, há anos, do
projeto “Roda Literária”, criado com o objetivo de levar poesia a quem,
geralmente, não tem poesia em sua vida. Assim, Jussara e outros escritores locais
reúnem-se nas ruas e praças da cidade, em uma roda, para ler textos seus e de outros
autores também. No início, a autora conta que houve certa resistência por parte das pessoas, que estranhavam
a iniciativa, desacostumadas que estavam de encontrar literatura ali, no meio da
praça e da rua. Mas o estranhamento logo deu lugar ao interesse, e do interesse à
participação foi um pulo. A cada “Roda”, novos apreciadores
surgem, e há inclusive aqueles que, encorajados pelos autores participantes, se
arriscam a declamar seus próprios poemas.
–
Isso faz valer os nossos esforços – afirma Jussara Pires – Eu acredito
que, de alguma maneira, uma ação como essa se torna uma boa semente para o
nosso futuro enquanto comunidade.
Jussara tem razão de acreditar, já que cada
semente plantada gera outras sementes, que por sua vez gerarão novas sementes e
assim sucessivamente, até que não tenhamos mais noção de quantas flores aquela
pequena sementinha produziu. O mundo vai mudando deste jeito: devagar e sempre.
De um em um converte-se uma multidão, que se transforma em um vasto e bonito
jardim.
A literatura revoluciona quando sai da cabeça
do escritor para o papel, mas revoluciona ainda mais quando sai do papel para
as ruas, para as mãos dos leitores – inclusive e principalmente daqueles que
ainda não sabem que são leitores. Quando deixa de ser privilégio de meia dúzia
e se populariza, se espalha, se democratiza, conquistando e contagiando. Quando
abandona o pedestal e as mesas de bares, onde só se sentam os intelectuais, e
vem ao encontro de quem mais precisa dela: o povo. Eu e você. Toda essa gente.
Por isso nós, da Editora Os Dez Melhores, nos
sentimos orgulhosos e sinceramente privilegiados de publicar autores como Jussara
Pires e tantos outros, conscientes de que, se vivemos em um país que não lê,
também é nossa responsabilidade mudar este cenário.
Porque do mesmo jeito que uma casa sem
moradores não pode ser um lar e um banquete sem convidados jamais será uma
refeição, o pôr do sol existe em função do sol tal e qual a literatura existe
em função do leitor.
Roda Literária, por Ray Rosas. |