Por Jana Lauxen.
Sou
a responsável pelo Nascedouro, selo da Editora Os Dez Melhores que publica
livros escritos por crianças e adolescentes. De 2013 pra cá, publicamos sete
livros contendo textos e desenhos de mais de 240 estudantes do interior do Rio
Grande do Sul. Logo, participei diretamente de sete lançamentos, e cada um foi
especial e inesquecível à sua maneira.
Porém,
nosso mais recente lançamento, a obra “Jovens Escritores Brasileiros Vol. 2”,
que aconteceu no dia 14 de novembro de 2018 em Sananduva/RS, foi particularmente
especial e inesquecível, devido ao contexto que experimentamos agora, enquanto país
e enquanto cidadãos. Enquanto coletivo e enquanto indivíduos.
Vivemos
tempos de crise generalizada, disso ninguém duvida. O colapso não é apenas
político e econômico, mas moral e estrutural. A falência da sociedade que
conhecíamos revelou o que de pior existe no ser humano: violência, fanatismo, intolerância.
Algo sem precedentes em nossa história. Uma espécie de guerra ideológica, cujo
combate não se dá em campos de batalha, mas no campo das ideias, da mente, das
emoções. O que, de modo nenhum, torna a luta menos dolorosa e desgastante. Bem
pelo contrário.
Todo
mundo está esgotado. Estressado. Irritado. Dá pra sentir a eletricidade no ar.
Qualquer faísca microscópica vira uma explosão nuclear. E não há ninguém –
homem, bicho, planta, velho ou criança – imune ao peso que paira em todo lugar.
Os
seis lançamentos do Nascedouro, que antecederam o último, não estavam inseridos
em um ambiente assim, tão hostil. A arte e os artistas ainda não eram
publicamente atacados. Livros e escritores ainda não eram censurados. Os
professores, apesar do descaso habitual, não eram vigiados e punidos como marginais.
Pensar criticamente, até então, não era crime.
Talvez
você esteja se perguntando de que jeito este clima agressivo poderia interferir
no lançamento de um livro escrito por crianças e adolescentes. O que política
tem a ver com literatura, afinal de contas? A resposta é: tudo. Veja que todos
os projetos do Nascedouro envolvem justamente livros & escritores, arte
& artistas, professores, escolas & pensamento crítico. Tudo o que,
neste momento, é visto como inimigo número um por significativa parcela da
sociedade.
E
é por isso que o lançamento do livro “Jovens Escritores Brasileiros Vol. 2” não
foi apenas o lançamento de um livro.
Foi
um projeto de força, reação e resiliência em meio ao caos. Um projeto que
enfrentou, desde o início, problemas e dificuldades de toda ordem, totalmente
condizentes com a nossa triste realidade, brutalizada, caduca e cega. Problemas
e dificuldades que foram superados um a um por Reni Terezinha Duarte, ser
humano iluminado e organizadora de tudo, que, junto com a equipe da Escola Amélia Lenzi Raymundi, moveu montanhas, mares,
mundos e fundos para fazer acontecer. E fez, porque é assim que faz quem sabe
fazer.
Após
o evento, relembrando todo o processo, fui obrigada a sorrir e admitir que,
apesar das pancadas, continuamos em pé. Apesar do desalento, ainda temos
motivos para acreditar que amanhã vai ser outro dia.
Afinal,
toda vez que alguém, em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, na cidade ou no
campo, no centro ou no interior, estimula uma criança a pensar, a ler, a
escrever, a conhecer e criar, a imaginar, uma nova rachadura surge neste muro
de hostilidade que nos separa e sufoca.
Cada
vez que uma criança tem a oportunidade de saborear o conforto, a segurança e a
satisfação que só a arte pode oferecer, uma luzinha se acende – e a menor vela
já é capaz de esclarecer as trevas da ignorância e do preconceito.
Sim,
eu ando bastante pessimista, não posso negar. Mas depois do lançamento do livro
“Jovens Escritores Brasileiros Vol. 2”, entendi por que costumam dizer que a
esperança é a última que morre e a primeira que ressuscita.
Porque
enquanto houver uma única pessoa acendendo luzes em qualquer lugar do Brasil ou
do mundo, na cidade ou no campo, no centro ou no interior, a escuridão cedo ou
tarde se iluminará.