Pode
parecer estranho que eu, Jana Lauxen, escreva a resenha de lançamento do meu
próprio livro, O Duplo da Terra. No
entanto, esta resenha não é só sobre o lançamento do meu terceiro livro; é
sobre um movimento crescente e impetuoso que vejo formar-se e transformar-se
aqui, em Carazinho, cidade pequenina de 60 mil habitantes, encravada no norte
do Rio Grande do Sul, onde eu moro.
Ocorre
que, no último sábado, junto com o lançamento do meu livro, aconteceu a 3ª
edição da Mostra de Arte do Saloon –
Feira Livre da Contracultura, no Rancho Cavalo de Troia, em paralelo com a 13ª edição da Casa do Rock and Roll.
A
Editora Os Dez Melhores é uma das
apoiadoras culturais do evento, de modo que sábado era uma noite realmente muito
especial para nós.
Chega mais, que tá só começando! |
Começou
com São Pedro dando uma trégua na chuva incessante, e mandando um céu límpido e
estrelado para a noite do dia 04 de junho. Contudo, não perdoou na temperatura,
e decretou um frio avassalador, com neblina de madrugada e geada ao amanhecer.
Três da manhã, e lá fora estava assim. |
É
de se imaginar que o frio espantou o público, certo?
Só
que não! ;)
Chegamos
por volta das 19h30, e a maioria dos expositores já se fazia presente. Não
demorou até que o público começasse a aparecer e, quando vi, estava tudo
montado, funcionando, acontecendo.
Vem que tem! ;) Foto: Felipe Granville. |
Janaina Bueno, artesã de mão-cheia, expôs pela primeira vez e já agradou de cara. Com
um trabalho autoral preciso e criativo, Janaina encantou o público e imprimiu
seu nome no caderno de recordações da Mostra
de Arte. Abre parênteses para um comentário sobre um dos incensários que
estavam à venda em sua banca, e que era revestido por uma casinha. O incenso
queimava e a fumaça saía pela chaminé, haha. Maravilhoso! Fecha parênteses.
Olha a casinha ali! |
Ao
lado da minha xará, um dos casais que eu mais gosto e admiro: Bruna Anacleto e Felipe Granville vieram com um trabalho primoroso, cuidadoso e extremamente caprichado
– além de relevante. Apresentando um projeto fotográfico impecável e sensível,
Bruna e Felipe também disponibilizaram para venda peças preparadas manualmente a
partir da reutilização
de materiais, reafirmando a importância da sustentabilidade para nossas vidas,
e para nossa própria arte.
A artista
carazinhense Priscila Pezzini dispensa apresentações. Participou de todas as
edições da Mostra de Arte, e sempre
surpreende pelo seu trabalho detalhista e altamente original.
Também estreando na
Mostra estavam Fill ChapelletArtes e
Raquel Schneider. Fill, que veio de Passo Fundo para o evento, pode ser
considerado um artista múltiplo: desenha, canta, escreve, edita, produz, pinta
o sete, faz & acontece. Afora sua produção artesanal, Fill comercializou
exemplares de alguns dos zines que já editou – de um deles, aliás, eu
participo! Confere aqui.
Já
Raquel mostrou personalidade e criatividade em suas obras – além da simpatia de
sempre!
Fill e Raquel em suas bancas vizinhas. |
Wélington Weimann, da WW Art, que participou
da 2ª Mostra de Arte em dezembro de
2015, voltou – e voltou com tudo. Se no final do ano passado ele já surpreendeu
pela sua extraordinária capacidade criativa e técnica apurada, desta vez ele apresentou
um trabalho ainda mais profissional e minucioso – detalhe: ele tem 15 anos.
QUINZE. ANOS.
#chocada! Foto: arquivo pessoal do autor. |
Além
das ilustrações, Wélington produziu ao vivo durante a Mostra, desenhando placidamente, como se fosse o negócio mais
natural do mundo.
"É fácil", só que não! |
Quem
já estreou na Mostra produzindo ao
vivo e mostrando a que veio foi o ilustrador e caricaturista Sidnei Gean, da Sid's Art. Dono de uma habilidade
extraordinária e de um traço determinado, Sidnei desenhou durante boa parte do
evento, fazendo parecer fácil o que deve ser difícil pra caramba.
De
minha parte, só posso dizer que garanti a caricatura do Jimi Hendrix. ;)
O
180 Selo Fonográfico também
participou da Mostra pela primeira
vez, e devo dizer que foi realmente um prazer contar com a sua presença.
Conheço o Garras, um dos sócios do selo, desde a época da faculdade, e sei que
ele é daqueles que não largam o osso nem a pau. Se tiver que remar contra a
maré, ele rema o resto da vida. Gosto dele, e gosto disso nele.
O Garras, de touca, e seus discos. |
Ademais,
o trabalho independente do 180 Selo
Fonográfico, de certo modo, é muito parecido com o trabalho que fazemos
aqui, na Editora Os Dez Melhores. A
diferença é que eles fazem discos, e nós, livros. Então, se você curte música
boa, clica aqui e conheça o trabalho desses caras. De nada.
Quem
também voltou ao Saloon foi o grafiteiro Pedro Oliveira, desta vez para
trabalhar em dois painéis para a Editora
Os Dez Melhores. Como sempre, demonstrou segurança e competência, e esbanjou
talento, firmando-se como um nome relevante do grafite em Carazinho e região.
Colegas
de Mostra de Arte desde a primeira
edição, os amigos do projeto Carazinho em Imagens estiveram novamente presentes, e desta vez trouxeram uma proposta de
educação patrimonial, que consistia em vislumbrar os “lugares de memória” ainda
existentes em Carazinho, e também aqueles que não existem mais.
Foto: arquivos do projeto "Carazinho em Imagens". |
Por
isso, nesta edição, o projeto disponibilizou fotos antigas da cidade, as quais
o público podia manusear e tentar adivinhar que lugar estava retratado ali. O
objetivo, como sempre, é chamar a atenção para a importância da preservação do
patrimônio histórico do município, e suscitar um olhar diferenciado sobre nossa
cidade, e sobre nossa própria história. O
Carazinho em Imagens vai virar livro
ano que vem. Clique aqui e saiba mais.
Público conferiu algumas fotos do projeto "Carazinho em Imagens". |
Para
nossa alegria, Sheila Kempfer e Felipe Defante levaram cookies caseiros ma-ra-vi-lho-sos,
e fizeram sucesso entre a galera, que estava no Saloon desde cedo e já sentia a
fome bater.
Quem
também marcou presença foi Albano Custódio, da CZO Decks, que expôs shapes que todo skatista precisa conhecer.
Da esquerda para a direita: Afobório, Jana Lauxen e Albano Custódio. |
Enquanto
tudo isso acontecia, o mágico e hipnólogo Jim Gauto circulava entre o público e
os expositores, fazendo seus números, truques e peripécias. E, pra variar,
deixou todo mundo meio chocado, pensando: OI?
COMO... |
Na
2ª Mostra de Arte eu participei de
uma apresentação do Jim, e estou ATÉ AGORA TENTANDO ENTENDER O QUE FOI QUE
ACONTECEU ALI!!!
Acreditem
em mim: o guri tem o poder.
Jim, deixando a geral meio confusa. |
Espalhados
pelas paredes do Rancho Cavalo de Troia
estavam os quadros do artista plástico Elói Erpen Schipper, que comemorou a
venda de uma de suas telas mais emblemáticas: a famosa pistoleira, que parecia
apontar sua arma bem para os nossos olhos.
Elói e a pistoleira. Foto: arquivo pessoal do autor. |
Durante
a Mostra também aconteceu o sarau
acústico, com muita música e leitura de textos.
Tales fazendo um som durante o sarau acústico. |
Valdecir Algayer tocou seu saxofone enquanto passeava pelo Saloon, e também se
apresentou com Tales Vinícius, outra presença sempre confirmada no evento.
Os
músicos Marlon Schettert e Tiago Kreutzer improvisaram uma parceria inusitada e
maravilhosa com os rappers Carlos Burgel e Josué Quadros, fazendo uma mistura
louca e linda de rap, rock e música clássica.
Da esquerda para a direita: Marlon, Josué, Carlos e Tiago, arrasando. |
Tiago
também tocou ao lado de Leonardo Becker, que apresentou uma de suas músicas
autorais, “Cartas”.
Por
fim, Tita Growl, da banda Black Hot Coffee, mostrou que, além da música, também é amiga de infância da
literatura, e fez uma breve apresentação de seu livro, que deverá ser publicado
ainda neste ano.
Os
shows iniciaram por volta das 23h30, e se estenderam até 5h da manhã.
Oito
bandas subiram ao palco, e colocaram o público pra pular e curtir.
Tanto
que, quando a última banda se preparava para entrar em cena, o Saloon ainda
estava cheio.
Último show da noite. |
E
entre um show e outro, o bom e velho companheiro DJ Christiano Naza, que não
decepciona quando o assunto é o bom e velho rock and roll.
Outro
que trabalhou a noite toda foi o fotógrafo Fernão Duarte. E após dez horas ininterruptas
fotografando todos os detalhes da festa, havia mais de 800 imagens, uma melhor
que a outra. Foi uma lida árdua reduzi-las para pouco mais de 250, e aqui
você confere o resultado final de todo este trabalho.
Mil fotos. Ou quase. |
A
Editora Os Dez Melhores, em parceria
com a Café Espacial, montou sua
banca às 19h30, e lá ficou até pouco depois das 2h da manhã, quando recolhemos
o que sobrou dos livros e das revistas, e fomos curtir os shows que ainda
faltavam acontecer.
A
3ª edição da Mostra de Arte do Saloon – Feira Livre da Contracultura terminou nos deixando com aquela sensação
boa de dever cumprido, e de fazer parte de um movimento cultural autossustentável,
que se fortalece dia após dia, Mostra
após Mostra, e que só tende a
crescer e aparecer.
Porém,
ninguém cresce sozinho. Muito menos no mercado independente. E é por isso que
iniciativas como a Mostra de Arte tem
relevância. Porque busca reunir os artistas locais e os coloca a trabalhar um
para o outro, partindo do coletivo para o indivíduo.
A
Editora Os Dez Melhores é uma das
organizadoras do evento, mas não faz absolutamente nada sozinha. Sem o apoio
dos expositores, que não medem esforços para deixar tudo perfeito; sem o apoio
do público, que comparece, que prestigia, que incentiva; sem o apoio do Rancho Cavalo de Troia, que abre suas
portas, que nos deixa entrar, que contribui diretamente para fazer acontecer,
que diz SIM quando todos dizem NÃO; sem toda essa gente, nada disso existiria.
Isso
se chama sistema colaborativo. O único sistema no qual qualquer coisa pode
funcionar – que dirá quando o assunto é arte independente.
Então,
a todos vocês, que expuseram seus trabalhos, que leram seus textos, que tocaram
seu som, que prestigiaram o evento, que curtiram, que compartilharam: NOSSO
MUITO OBRIGADA!
Obrigada
por fazerem parte desta engrenagem de cooperação mútua, que precisa de cada um
de vocês para continuar funcionando.
E
até a 4ª edição da Mostra de Arte do
Saloon! ;)
Frio? Que frio? |
Veja mais fotos do evento AQUI.