quinta-feira, 2 de agosto de 2018

“O Cálice de Ouro”: o contrapeso de toda certeza



Ciência e maldição, bem e mal, fé e dúvida, herói e vilão, ceticismo e credulidade. Serão mesmo extremos opostos que se repelem? Ou, justamente por serem extremos opostos, se atraem?
Estas são algumas das muitas perguntas que a obra O Cálice de Ouro, da escritora baiana Jussara Pires, traz ao leitor em suas entrelinhas, questionando-o em suas convicções exatamente como acontece com Merlia Fiebe, a protagonista deste romance repleto de suspense, aventura e reviravoltas.


Tudo começa quando as arqueólogas Merlia e Vera se deparam com um artefato tão remoto quanto misterioso, que contradiz tudo o que sabiam até então a respeito da presença do homem na América do Sul. Comprovando a existência de uma civilização mais antiga, mais complexa e ainda totalmente desconhecida, as cientistas embarcam em uma jornada por grutas, escrituras ancestrais, segredos, tesouros e enigmas, que termina por colocar em risco não apenas suas vidas e suas certezas; mas a vida humana e todos os seus princípios morais.
Lançado em julho deste ano pela Editora Os Dez Melhores, O Cálice de Ouro é um livro de leitura leve e dinâmica, que prende o leitor da primeira até a última linha, envolvendo-o em uma trama da qual sente fazer parte; transformando-o em mais um personagem de seu enredo eletrizante, Jussara Pires é hábil em cercar e cativar o leitor, embarcando-o em sua história e tornando-o também membro da expedição capitaneada por Merlia Fiebe e sua equipe.
Esta capacidade singular torna Jussara uma escritora de expressão, e seu livro de estreia uma obra que vai além do mero entretenimento. Ao incluir o leitor em sua narrativa, fazendo dele um personagem onipresente a cada página virada, a autora o conquista e o captura, tornando impossível abandonar o livro até seu derradeiro e surpreendente desfecho.
Entretanto, acima da narrativa cativante, dos mistérios, dos dilemas e da originalidade de sua literatura, o grande mérito d’O Cálice de Ouro é levantar mais perguntas do que respostas, colocando em dúvida não apenas as crenças de seus personagens, mas também (e principalmente) as do leitor, que atua tanto como protagonista quanto como antagonista de sua história. Ao depositar nossas certezas na balança, Jussara consegue a façanha de abrir nossa cabeça com a delicadeza de uma tempestade, celebrando a dúvida e o questionamento; interrogando o que trazemos como certo e verdadeiro.
O Cálice de Ouro é uma obra engenhosa, mas é também uma experiência fantástica sobre a inquietação que existe e resiste sob nossas convicções. Um convite para seguir com obstinação os fantasmas que nos assombram, invadindo sem pedir licença aquele espaço teoricamente seguro que reservamos para nossas verdades absolutas.
Se crer em tudo é tão equivocado quanto descrer de tudo, O Cálice de Ouro é o contrapeso de toda certeza. Uma obra escrita especialmente para aqueles que não têm medo de percorrer o inexplorado, iluminar o obscuro, decifrar o indecifrável e contestar o indiscutível.
Aos que têm coragem, fica o convite: vem junto revelar o mistério d’O Cálice de Ouro*, e garanta sua passagem nesta viagem tão inesquecível quanto perturbadora.
Porque, afinal, duvidar é a maior aventura em um mundo que tem tanta certeza sobre tudo.

* O Cálice de Ouro está disponível para venda com a autora (através do e-mail jugloxinia@gmail.com) ou na livraria virtual da Editora Os Dez Melhores.