Ôrí é uma palavra
iorubá, muito utilizada nas religiões de matriz africana no Brasil, que
representa a divindade pessoal de cada indivíduo. Segundo o babalorixá Sidnei
Nogueira, Ôrí “descreve o recipiente capaz de processar os pensamentos”. É,
literalmente, a cabeça física e espiritual de todo ser humano, o ponto superior
de nosso corpo, o lugar que abriga nossos Orixás.
Ôrí
também é o título do próximo lançamento da Editora Os Dez Melhores, que, não
por acaso, acontece dia 19 de novembro, terça-feira, véspera do feriado do Dia
Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. A obra é o resultado
final do Projeto de Educação Antirracista, atividade extracurricular
capitaneada pela professora e historiadora Bruna Anacleto, envolvendo alunos do
ensino médio da Escola Cônego João Batista Sorg, de Carazinho.
O projeto iniciou
em 2022 com a proposta de criar releituras de contos de fadas, aproximando tais
narrativas da realidade dos estudantes. Afinal, quem consegue se identificar
com personagens predominantemente brancos, heteronormativos e com um corpo
sempre dentro do padrão idealizado? Poucos de nós; talvez nem um de nós.
Porque, verdade seja dita, as histórias que nos contaram durante toda a nossa infância
simplesmente não nos representam.
Não demorou e o
projeto ampliou seu olhar, seus braços e seu abraço, alcançando também
histórias reais de mulheres fortes e inspiradoras, que nada tem a ver com as
frágeis e indefesas princesas dos contos de fadas. Estamos falando de Dandara,
Nina Simone, Sonia Guajajara e Marielle Franco, a grande mentora do projeto,
além de Ágatha Fox, a primeira aluna trans do Sorg, entre muitas outras.
A primeira edição
do projeto reuniu 15 histórias e poesias, que foram então transformadas em
livretos escritos e ilustrados pelos estudantes. Devido ao grande sucesso e
repercussão da atividade, em 2023 veio a segunda edição, que culminou em 26
histórias e desenhos sobre mulheres e homens racializados, que fazem de sua
existência um ato corajoso de resistência, como, por exemplo, Lélia González,
Malcolm X, Sueli Carneiro, Elza Soares e Ailton Krenak.
A segunda edição
do projeto também trouxe as histórias de personagens carazinhenses, cuja luta
antirracista parece fazer parte de seu DNA: estamos falando do primeiro
vereador negro eleito no município, Alaor Galdino Tomaz; da ialorixá Carmem
Holanda, nossa Mãe Carmem de Oxalá;
de Cinara Mayer, a primeira mulher negra a ocupar um cargo de direção no Sorg;
do Jamaica, multiartista, professor, capoeirista e uma lenda viva em nosso
município; e, claro, da tia Ieda, funcionária do Sorg e grande mãe-amiga-confidente
dos estudantes.
Ôrí
é um livro carregado de vidas e personagens que falam sobre nós; que nos
representam, que fazem com que a gente se identifique e se conecte sem esforço.
De modo que o subtítulo da obra é uma pergunta que não poderia ser mais certeira:
Com quantas histórias se faz um eu?
É possível a
construção do EU sem a conscientização e união do NÓS? Existe indivíduo sem
coletivo? Cidadão sem comunidade?
Ôrí: com quantas histórias se faz um eu? foi 100% financiado por Bruno Berté, o
vereador mais votado da última eleição, comprovando a força e a relevância da
cena cultural carazinhense, uma vez que Bruno levanta a bandeira da cultura
local desde que se lançou vereador pela primeira vez, em 2020.
Além do livro, o
projeto também rendeu o documentário Preconceito Real – muito além da cor da pele e o podcast Nossa Voz, ambos
produzidos pelos estudantes.
O lançamento do
livro acontece dia 19 de novembro, entre 18h e 21h, no salão nobre da
Escola Cônego João Batista Sorg (Rua Marechal Floriano, 688). Além da presença
dos alunos-autores, que estarão autografando os exemplares de seu primeiro
livro, haverá também leituras, música e apresentações. A entrada é gratuita e Ôrí estará à venda para quem se
interessar por R$65.
Todos os
carazinhenses que, assim como nós e Angela Davis (outra personagem presente no
livro), também acreditam que “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista” estão convidados para o nosso lançamento, que é mais do que o lançamento de um
livro; é parte de uma luta que pertence a todos nós, independentemente da nossa
cor, crença, gênero e orientação sexual.
Porque uma
sociedade preconceituosa jamais se transformará em uma comunidade melhor e mais
unida, menos violenta e mais feliz – que é o que todos nós queremos, merecemos
e, acima de tudo, precisamos.
Sua presença
importa, faz toda a diferença e fortalece a cena cultural local e a luta
antirracista em Carazinho!
Mais informações,
entre em contato através do e-mail osdezmelhores@gmail.com