quinta-feira, 7 de março de 2024

"Ao aluno, a palavra": texto de apresentação!

Por Jana Lauxen.

Qual é o papel do estudante diante de sua escola, de sua cidade e de seu país? Qual é a sua importância para o futuro?

Essas foram as perguntas feitas a alunos de dez escolas públicas de Carazinho/RS e região que, convidados a escrever sobre o tema “Eu, estudante, minha cidade, meu país e nosso futuro”, não se intimidaram: encararam a folha em branco e a preencheram com suas palavras, seus sonhos, seus medos, sua imaginação e, acima de tudo, sua incrível capacidade de observar e absorver.

O coletivo literário escolar Ao aluno, a palavra é uma sequência do projeto Ao professor, a palavra, livro lançado em 2020 pela Editora Os Dez Melhores reunindo textos de 14 educadoras brasileiras versando sobre ser professor. Agora, seguindo com nossa busca de ouvir as vozes que nascem na sala de aula, apresentamos essa obra para você, leitor, trazendo contos, crônicas e poesias de 26 estudantes gaúchos do 6º, 7º e 8º anos.

Muitos dirão que esse livro é uma grande oportunidade para nossos alunos pensarem, escreverem e compartilharem seus escritos, publicando e vivenciando a experiência de ser um escritor. Porém, particularmente, eu acho que a grande oportunidade pertence aos leitores, isto é, a nós.

Nós, adultos, professores, pais, mães, famílias e comunidade, que temos agora o privilégio de conhecer mais e melhor o que se passa na cabeça e no coração dessa gurizada. Falo de nós, que ganhamos uma preciosa chance, em formato de livro, de aprender com os nossos alunos.

Sim, porque, erroneamente, gostamos de acreditar que somos nós quem os educamos, o que é verdade até certo ponto. Contudo, nos equivocamos quando pensamos que só temos a ensinar aos mais jovens, e não a aprender com eles. Porque eu acredito realmente que, quando ouvimos sem julgamentos ou críticas o que dizem nossas crianças e adolescentes, possibilitamos a nós mesmos descobrir uma vastidão de novas ideias e conhecimentos, maneiras inesperadas e criativas de perceber e ler o mundo, de interagir com as pessoas e com os acontecimentos – de um jeito que só quem ainda não viciou seu olhar é capaz de fazer.

Nada me incomoda mais do que adultos repetindo que a nossa juventude está perdida, exatamente como fizeram nossos pais, avós, bisavós (e daí pra trás). Para mim, trata-se de uma vergonhosa arrogância, nascida da perigosa certeza de que só temos a ensinar e não a aprender.

É assim que acabamos engessados em nossas pífias convicções e fechamos nossos olhos, nossa mente e nosso coração para o novo que, como diz Belchior, sempre vem.

Quantas vezes, no último ano, você ouviu de verdade uma criança ou um adolescente? Quando foi a última vez que você prestou atenção no que eles dizem, sem ficar só esperando que se calassem para, então, fazer a sua palestra e mostrar o quanto você supostamente sabe?

Esse livro é para mim, para você e para todo mundo capaz de compreender que, quando achamos que temos mais a ensinar do que a aprender, é porque muito provavelmente não temos mais nada a ensinar.

Boa leitura e bom aprendizado para nós!