Por Jana Lauxen.
Aconteceu assim: eu morava em
Sananduva/RS em maio de 2013, e me preparava para lançar meu segundo livro, O Túmulo do Ladrão. Procurei, então, a
Casa da Cultura Prefeito Hilário Copatti, para ver da possibilidade de realizar
o lançamento em seu espaço. Minha ideia era fazer algo simples, convidar alguns
parentes, amigos e conhecidos, e fim.
Mas aí eu conheci a Silvia Tartari Neves,
coordenadora da Casa da Cultura. Botei meus olhos nela e soube na hora: essa
mulher não veio ao mundo para passear.
Ela imediatamente disponibilizou a Casa
da Cultura para a realização do lançamento, e fez ainda mais:
– E se chamássemos os alunos do Colégio
Estadual Sananduva para uma palestra sobre teu livro? Topa?
Topei, claro.
Assim, fazia pouco mais de dez minutos
que eu estava sentada na frente da Silvia e ela já havia telefonado para a
escola e agendado as palestras.
Silvia faz a hora. Silvia não espera
acontecer.
Já em minha casa, pensei: se vamos fazer
uma palestra, por que não fazer também uma oficina de criação literária? E,
mais: se vamos fazer uma oficina de criação literária, por que não publicar os
textos elaborados durante estas oficinas?
Assim surgia o Dia Literário, que ocorreu em nove de maio de 2013. Durante os três
turnos desta quinta-feira fria e ensolarada aconteceram palestras e oficinas na
Casa da Cultura de Sananduva/RS, além do lançamento do meu segundo livro – o
responsável por iniciar este barulho todo.
Contudo, alertei: para que tivéssemos
material suficiente para a publicação do livro, precisaríamos de, pelo menos,
20 autores.
Tivemos 75 alunos inscritos.
O que, admito, me deixou chocada. Eu
jamais esperava essa recepção e interesse por parte dos estudantes.
A ilustração que compõe a capa deste
livro foi a mesma que inspirou os autores a escreverem seus contos. Este era o
desafio: observar a imagem e contar uma história sobre ela – qualquer que fosse
esta história.
Tal imagem foi generosamente cedida ao
projeto pelo premiado quadrinista e ilustrador Mario Cau, que já trabalhou ao
lado de Mauricio de Sousa e, literalmente, abraçou a ideia, tão logo eu lhe
expliquei como tudo funcionaria.
O Dia
Literário foi um sucesso, e o livro Conte um Conto Vol. II é o
resultado deste dia. O resultado de um trabalho que é meu, da Silvia, do
Colégio Estadual Sananduva, mas, principalmente, desta gurizada sensacional e
criativa que participou, escreveu, e tornou possível a realização do projeto.
E foi a partir deste Dia Literário que surgiu o Selo Nascedouro, da Editora Os Dez
Melhores, que pretende percorrer cidades de todo o Rio Grande do Sul – e por
que não, do Brasil também – realizando eventos como este, e oportunizando aos
jovens escritores que estão escondidos por aí a chance de tirar seus escritos
da gaveta e levá-los cidade afora, estado afora, país afora. Mundo afora.
Sim, amigo leitor. Se hoje o Selo
Nascedouro existe é por causa deste primeiro Dia Literário, e destes alunos/autores incríveis, que me mostraram
que o mundo ainda tem salvação. Que a juventude, ao contrário do que muitos
insistem em afirmar, não é alienada coisa nenhuma.
Alienado é quem não confia e nem aposta
em nossos jovens e crianças, que estão dando um baile em muitos adultos, e
provando que pensam, que leem, que possuem opinião própria, e que, assim como a
Silvia, não vieram ao mundo para passear.
Jovens que também fazem a hora.
Jovens que também não esperam acontecer.
Os alunos/autores deste livro são os
únicos responsáveis pela criação do Selo Nascedouro, e são também os únicos
responsáveis por me mostrar que, sim, vale a pena investir em ações como esta.
Vale muito a pena abrir as portas para esta juventude vibrante que quer fazer,
mas muitas vezes não encontra uma oportunidade; não encontra uma porta aberta.
Eu, assim como toda a equipe da Editora
Os Dez Melhores, quero abrir esta porta. Eu, assim como a Silvia, quero
oportunizar para esta meninada a chance que eles procuram, muitas vezes sem
sucesso. Eu, assim como a direção e todos os professores do Colégio Estadual
Sananduva, acredito que, se não cuidarmos de nossos jovens, se não confiarmos e
acreditarmos neles, não restará nada para nós em um futuro muito próximo.
No entanto, leitor, não se engane.
Os textos contidos nesta obra, apesar de
escritos por autores muito jovens, não são amadores. Muito pelo contrário. Há
textos aqui que são páreos para textos de escritores renomados e reconhecidos.
Há, inclusive, textos definitivamente superiores aos escritos por autores
renomados e reconhecidos.
A gurizada não está para brincadeira, e
quer muito mais do que apenas conquistar seu lugar ao sol. Quer o melhor lugar
que há embaixo do sol, e quer colaborar para que outras pessoas encontrem
também seu lugar em um mundo que precisa desesperadamente de gente com coragem
para fazer acontecer.
Coragem esta que sobra em todos os
autores deste livro. Coragem esta que não falta para a Silvia, e nem para o
Colégio Estadual Sananduva.
De minha parte, só posso agradecer.
Agradecer pela confiança e pelo
entusiasmo que vi nos olhos de cada autor. E pela oportunidade de realizar este
trabalho, que para mim é muito mais do que um simples compromisso profissional.
É o combustível que me faz querer ir sempre em frente, cada vez mais.
Agradecer até mesmo você, amigo leitor. Obrigada por apoiar e acreditar neste
projeto, nestes autores, e em um futuro melhor para todos nós.
Um futuro onde as pessoas entenderão que,
sozinhas, não chegarão a lugar nenhum. Onde caminharemos juntos, lado a lado, e
desenvolveremos a capacidade de pensar com nossa própria cabeça. Um futuro onde
saberemos questionar, e não mais engoliremos tudo o que nos enfiam goela
abaixo.
Um futuro onde teremos autonomia social e
intelectual, e no qual ninguém nos fará de marionete.
Os autores que compõem este livro já
iniciaram sua caminhada rumo a um futuro melhor, mais vibrante e menos triste.
E você?
Vem com a gente?